sexta-feira, 22 de abril de 2011

CRÔNICA DA SEMANA

TRIBUTO À TEMPESTADE
(Davi Roballo)

Em meu divagador andar, pelas sendas de minha salutar insanidade, encontrei agora há pouco um ancião, que nos corredores da vivência já curtido pela experiência se fez poeta e cantor.
Aquele ser de cabelos brancos bailava nos braços da brisa e entoava um tributo à tempestade. Voltado para um redemoinho de papiros, penas e escritos saudava aquela força em ventos, a cantar alegremente sua renovação e êxtase pelo cultivo de sua liberdade.
O vi como um pássaro livre a revoar no horizonte, longe dos cárceres voluntários. De sua boca saía um canto magistral em forma de luzes que me prenderam a atenção:
Tempestade, majestosa tempestade cognitiva!... Daqui da janela de meu paraíso, observo-te sorridente. Feliz, encontro-me radiante a observar-te a arrasar as plantações equívocas que se arraigaram nas glebas de minha alma. Concomitante, admiro contriste ao largo no horizonte e aos meus pés onde aterrado encontra-se meu paraíso, grandes árvores acorrentadas ao chão pelos guardiões da estupidez, para não curvarem-se diante de tua força e sutileza.
Tempestade, minha grande destruidora e reconstrutora tempestade de leitura!... Como pude considerar-te algoz, quando na verdade queria libertar-me das prisões escuras e frias, onde me submeteram os déspotas que seqüestraram as causas primeiras das verdades, por terem elas ferido seus brios, calcado suas empáfias e calado fundo a espada racional em seus pérfidos corações?...
Tempestade, minha profícua tempestade!... Não me causam mais temor, teus raios, trovões e tufões que me transportam para lindos e contemplativos prados, onde me deleito em teu seio esplendido a contemplar o verdadeiro cenário divino.
Tempestade, minha doce tempestade de livros!... Teus ventos uivantes não me açoitam no pensar e no construir, como acreditara eu antigamente. Tuas torrentes acariciam-me o livre pensar e faz-me um eterno artífice de mim mesmo, que quando obsoleto torna-se este edifício Eu, que destruído é por tua força e surge uma nova edificação em conformidade com o tamanho de meu espírito a crescer dia a dia, graças a ti, majestosa tempestade de letras!...

Nenhum comentário:

Postar um comentário