quarta-feira, 2 de março de 2011

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

SEGREDO
(Mariana Lima)

Não devo te querer, bem sei
Porque não posso te amar;
Ainda que o amor em meu peito
Esteja a dilacerar
Insistindo com o coração
A ideia de te procurar.

O desejo de teus beijos, eu sinto.
É uma verdade, não minto,
Mas sei que é um amor impossível;
É um querer sem razão;
Apenas um sentimento ingênuo
Do meu pobre coração.

Noites sem fim em minha cama
Penso em ti minha dama,
É difícil adormecer!
Não consigo entender
Esse amor que me invade a alma
Tirando-me o sono e a calma.

Ainda assim, preciso ponderar,
Estamos tão longe um do outro
Como o sul está do norte,
Tu, és dama da corte
E eu, um plebeu sem sorte.

Guardarei só para mim
O desejo de te amar,
Não saberás de mim,
Nem das minhas ansiedades
Ficarei no anonimato
Com minha infelicidade.


MULHER CIGARRA
(Joeusa Fortuna Salles Santos)

Como a cigarra
ela vive deslumbrada,
embriagada pelo Sol, pelo luar,
pelo azul, pelo verde, pelo mar,
pela flor, pelo fruto, pelo amor...
E canta o seu encanto,
e dança o balé do tempo,
e se entrega inteira,
conquistada pela vida...
Mas, quanto mais vive,
mais teme o desencanto
e só quer viver o que lhe parece belo,
só quer dançar os acordes mais bonitos,
e canta, canta sem parar,
cada vez mais alto e mais forte,
temerosa de ouvir outros sons
que não quer ouvir...
E canta, canta e canta
o seu encanto já desencantado,
sem tempo de tomar fôlego e de respirar...
E canta e recanta, mulher cigarra,
até que seu peito estoure
e sua música se misture ao vento...

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