UM DEDO DE PROSA
Procura-se uma lembrança perdida no tempo. Lembrança esta capaz de
fazer-me criança novamente; capaz de transportar-me - nos braços das pueris
recordações - à saudade da minha longínqua infância e ao que de mais puro
deixei por lá.
Procura-se uma infância esquecida pelo tempo. Infância esta
responsável por todas as boas lembranças registradas em minha mente e
arquivadas no meu coração cuja bateria está prestes a descarregar em
definitivo, porém, resistindo firmemente às dores da saudade e à cruel
imparcialidade do deus Cronos.
Procura-se a pureza de um coração infantil. Pureza esta corrompida
pelo tempo e desprezada pela imaturidade dos que se dizem maduros e prontos
para corresponderem aos impulsos do cérebro cujo chip foi danificado quando da
sua suposta maturação, quando do seu envelhecimento.
Procura-se, enfim, um dispositivo que permita retroceder o tempo e
rebobinar o filme em que ficaram gravadas todas as boas lembranças de outrora
cujas recordações provocam o rejuvenescimento dos corações que inda se
alimentam com o saudosismo e sorriem para o envelhecimento, que os aguarda
pacientemente.
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