quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA



SONHO.
(Manuel Bandeira)

Em sonho lembrei-me
De um sonho passado
O de ter sonhado
Que estava sonhando.

Sonhei ter sonhado
Ter sonhado o quê?
Que havia sonhado
Estar com você.
Estar? Ter estado,
Que é tempo passado.

Um sonho presente
Um dia sonhei.
Chorei de repente,
Pois vi, despertado,
Que tinha sonhado.


CANÇÃO FINAL
(Carlos Drummond de Andrade)

Oh! se te amei, e quanto!...
Mas não foi tanto assim.
Até os deuses claudicam
em nugas de aritmética.
Meço o passado com régua
de exagerar as distâncias.
Tudo tão triste, e o mais triste
é não ter tristeza alguma.
É não venerar os códigos
de acasalar e sofrer.
É viver tempo de sobra
sem que me sobre miragem.
Agora vou-me. Ou me vão?
Ou é vão ir ou não ir?
Oh! se te amei, e quanto,
quer dizer, nem tanto assim...

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