sexta-feira, 26 de agosto de 2011

UM DEDO DE PROSA

... PORÉM, E OS DEVERES?

Cá estou eu mais uma vez para manifestar a minha indignação com o EXCESSO DE PROTECIONISMO aos delinqüentes juvenis.
Quando se fala em crimes praticados por adolescentes e a imediata prisão desses infratores, os órgãos responsáveis pelo BEM-ESTAR físico e moral dessas “crianças” logo aparecem para reivindicar os seus DIREITOS. Em momento algum os DEVERES desses MINI-MARGINAIS são mencionados. Será que eles não os têm?
Semana passada, eu e o Brasil inteiro vimos pela televisão imagens de “crianças” fazendo arrastões, sendo APREENDIDAS e promovendo quebra-quebra por onde passaram. Hoje, assisti – também pela TV - a cenas de selvageria praticada por adolescentes: em Minas Gerais, um rapaz de 15 anos (ainda na 5ª série ou 6º ano, como acharem melhor!) agrediu, COVARDEMENTE, a pontapés a Diretora da escola em que estuda, e ainda saiu ameaçando-a de morte; em Brasília, dois adolescentes assaltaram um posto de gasolina, e não satisfeitos, agrediram o frentista e um motociclista que lá chegara para abastecer. Nesse último, os agressores desferiram-lhe violentos socos, pontapés e facadas. O rapaz só não foi morto por PROVIDÊNCIA DIVINA (única garantia de proteção ao cidadão de bem): ele fora salvo com a chegada de um veículo que afugentou os agressores.
E o que irá acontecer a esse bandidos? Nada!... Simplesmente nada!...
A polícia até que faz a sua parte: prende-os!... ôpa!... Prende-os não! APREENDE-OS!... Mas a (in)Justiça solta.
Certamente, após lerem este texto, o pouco prestígio que tenho com os meus seguidores irá diminuir, mas não dá mais para ficar calado diante da INÉRCIA dos legisladores e magistrados que nada fazem para alterar um artigo sequer da tal LICENÇA PARA MATAR, ROUBRAR E ESTUPRAR, dada aos aprendizes de bandido em 13 de julho de 1990 por meio da Lei 8069.
Será que os errados somos nós, cuja cota de DEVERES e OBRIGAÇÕES vive numa crescente acentuada?
MEUS VERSOS LÍRICOS

SONETO A PLANALTINA
(Joésio Menezes)

Planaltina!... oh, Planaltina!...
Jamais me esquecerei de ti.
Nem de ti nem das cristalinas
Águas que nascem por aqui.


Jamais me esquecerei, Planaltina,
Das maravilhas que vivi
Naquela casa pequenina
Da quadra um do Buriti.

Também jamais me esquecerei
Dos amigos que conquistei
Nas tuas terras, Planaltina.

E para sempre hei de exaltar
As riquezas desse lugar
Cuja história me fascina...


PLANALTINA
(Joésio Menezes)

Pelas antigas ruas da cidade,
Lembranças me vêm à mente
Aguçando a intensa saudade
Nesse meu peito existente:
Alamedas conheci, é verdade,
Lamento, pois, veementemente
Tê-las perdido com a prosperidade
Inda quando era adolescente.
No entanto, nessa Feliz Cidade
Aprendi, inclusive, a ser gente


Minha singela homenagem a Planaltina-DF, por ocasião do seu 152º aniversário, comemorado em 19/08.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

ÁGUA DOCE DO RIO
(Terê Penhabe)

A água do rio é doce
só até chegar no mar,
pois quer queira ou não queira
ele sempre há de chegar.
E ele vem petulante,
certo de que irá adoçar
com sua mansidão de longe
toda a violência do mar.
Ao perceber seu engano
se enfurece e quer voltar,
mas é sempre muito tarde
que a pororoca se dá.
O mar, em contradição,
abre os braços e o recebe
no melhor do coração
como o amor que lhe apetece.
Nessa suave união
corpos se banham felizes
sentindo o sal do mar
e a mansidão do aprendiz.
Que sem ter pra onde ir
aceita seu novo destino
vai entrando com carinho
no gigante tão humilde.
Essa magia tão bela
que ao rio, o mar aquartela
vale a pena conhecer.
Sentir na alma e na pele
a carícia inconfundível
de águas doces que se salgam
deixando então de ser rios.


AMOR SERELEPE
(Patrícia Ximenes)

Feito um vento menino
O amor chegou com jeitinho
De surpresa e coladinho
Com seu carinho a espalhar.
Por ser tão inquieto
Nem se quer se importou
Trouxe a alegria pra perto
Balançou e inebriou.
Sacudiu as tristezas amarelas
Levou o abraço apertado
Pintou cores de aquarela
Trouxe versos tão desejados.
O coração não se desculpa
Cuida, pula e como pulsa!
Mas para sair do peito
Isso aí não teve jeito.
Unidos pela divina existência
O coração tem um certo calor
Essa é a mais pura essência
Do sentimento chamado amor.

CRÔNICA DA SEMANA

A MELHOR CASA DO MUNDO
(Fernanda Pinho)

O que eu faço da vida? Definindo simploriamente, escrevo sobre casas. Apartamentos triplex, puro mármore carrara, com vista para a Lagoa Rodrigo de Freitas. Mansões sustentáveis com telhados verdes, referência arquitetônica em Cingapura. Moradas espanholas esculpidas em concreto, praticamente obras de arte contemporânea. Lofts californianos, ousadia em layout, mobiliário e design.
Escrevo com honestidade, gosto do que faço e, obviamente, sempre que abro o material fotográfico, a primeira coisa que me passa pela cabeça é “ah, se eu morasse nessa casa”. Mas não passa de um suspiro. Não chega a ser uma ambição nem ao menos um desejo. Não sou de muitas pretensões. Sou de uma pretensão única: ser feliz. E, sabe, eu consigo ser feliz na minha própria casa. Pode parecer romântico, ingênuo ou até forçado o que eu vou dizer, mas eu realmente acredito que o que faz de uma casa um lar não é o material que a construiu, mas os sentimentos que a mantém erguida. A intimidade que temos com a casa é proporcional à cumplicidade que temos com as pessoas que moram conosco.
A fachada do meu prédio não é revestida de granito negro universo. Minha sala não tem pé-direito duplo. Não tenho vista para a Serra do Curral. Não há uma adega climatizada embaixo da escada, nem lareira, nem banheira. E nada disso impede que seja o único lugar em todo esse planeta onde eu me sinto verdadeiramente tranquila, confortável e segura. Pois eu sei que a tesoura está sempre na primeira gaveta do banheiro. Que se eu abrir muito a torneira do tanque, o fluxo de água da pia da cozinha vai diminuir. Que a lampadazinha do corredor ficou sete anos queimada. Que no chaveiro de metal não tem chave que abre o portão. Que as fotos ficam nas caixas de sapato entulhadas no maleiro da estante da salinha de TV. Que o tapete da sala foi feito pela minha mãe. Que só sentamos à mesa de jantar se houver visita. Que se a visita for muito importante, a mesa será coberta com o forro de linho branco. Que os enfeites de natal estão numa caixa, na estante da sala. Que as ferramentas estão numa maletinha preta e os esmaltes numa maletinha rosa. Que o telefone da pizzaria preferida está na primeira página da agenda, e não na letra P. São banalidades, mas são as nossas banalidades. Me solta em qualquer outra casa do mundo e eu não saberei onde procurar uma tesoura. E nem quero saber. Minha tesoura está aqui. E meus tesouros também.

Fonte: Crônica do Dia

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

UM DEDO DE PROSA

CRÔNICA DO TEMPO ALADO

Quando o deus Cronos criou o Tempo, deu a ele asas para que pudesse voar livremente pelo espaço cronológico, orientando os reles mortais no que diz respeito ao passado, presente e futuro dos fatos e da vida.
E sentindo-se alado, os ponteiros do seu velocímetro giram numa velocidade incontrolável, buscando acertar o destino dos que dele dependem e a ele resistem. Porém, o giro dos seus ponteiros jamais retrocede tampouco para na órbita cronológica dos acontecimentos para que possamos consertar o que fizemos de errado numa fração de segundo ou no decorrer das nossas vidas.
Ao mesmo tempo em que o Tempo pode ser implacável para com as pessoas em relação ao desgaste físico resultante da idade, ele pode também ser um grande aliado no que diz respeito a situações que exigem um certo tempo para se tomar uma importante decisão, como o que fazer para que uma vida – em situação de risco - seja salva ou prolongada por mais algum tempo.
Geralmente, o Tempo se arrasta sem pressa alguma quando alguém está numa fila de hospital à espera de um atendimento médico. Em contrapartida, ele voa na velocidade da luz quando se tem uma vítima de afogamento esperando por socorro.
E já que o tema em questão é o Tempo, preciso encerrar essa prosa por aqui, pois o tempo de intervalo é curto e alguns alunos esperam-me em sala de aula, angustiados por causa do tempo em que estão na escola.

MEUS VERSOS LÍRICOS

POBRE CORAÇÃO!
(Joésio Menezes)

Meu pobre coração
- triste e angustiado -
vive na contramão
sofrendo um bocado

co’as dores da paixão
que o deixam lesado
e quase sem Razão
por ser apaixonado...

Meu pobre coração
sente-se rejeitado,
vive sem emoção,
está despedaçado.

Ah!... pobre coração!...
É este o teu fado:
viver a decepção
de não mais ser amado.


TEU NOME
(Joésio Menezes)

Vou riscar teu nome do meu caderno
E no esquecimento vou guardá-lo.
Serei mandado para o inferno
Se isso eu fizer, mas... vou riscá-lo!

Porém, o meu sofrer será eterno
Se, ao menos uma vez, não citá-lo
Em meus versos – ainda que não ternos –,
Por isso, eu não posso ignorá-lo...

Teu nome ainda é o alento
Desse meu peito cujo sofrimento
É não poder aqui mencioná-lo.

E se aqui não me é permitido
Falar o teu nome, está decidido:
De outros amores também não falo!...

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

OS DOIS HORIZONTES
(Machado de Assis)

Dois horizontes fecham nossa vida:

Um horizonte, — a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, — a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, - sempre escuro, -
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.

Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais.
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.

Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.

No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, - tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.

Que cismas, homem? - Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem? - Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.

Dois horizontes fecham nossa vida.


ETERNO RETORNO
(Marcos Freitas)

a poesia aflora
sem hora
sem data marcada

a poesia, às vezes
demora
mesmo plantada
a pá, a enxada

a poesia nem sempre
brota
mesmo regada
a muita água ou vinho

a poesia
no entanto
sempre retorna
e me entorna
de alegria

CRÔNICA DA SEMANA


TEMPO QUE FOGE
(Carlos André Tavares Ramos)

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”, onde “tiramos fatos à limpo”. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.
Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: - Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Já não tenho tempo para ficar dando explicação aos medianos se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

UM DEDO DE PROSA


DIA DOS PAIS

Aproxima-se o DIA DOS PAIS. Mais uma data comemorativa criada pelo comércio que sonha com o aumento da venda de artigos e produtos destinados aos pais, sejam eles: velhos ou jovens, pobres ou ricos, altos ou baixos, gordos ou magros, feios ou bonitos... pouco importa sua característica física! O que mais importa é que sejam pais, simplesmente pais, nada mais que isso. A única exigência é que saibam ser pais, que deem aos filhos nada mais do que eles necessitam: carinho, confiança, amizade e, principalmente, amor. Muito amor!
Para alguns, ser pai é uma tarefa árdua. Para outros, é um estado de espírito, é uma responsabilidade Divina, é um sentimento de prazer indescritível e inenarrável, é a culminância do livro intitulado Vida cujos capítulos são a extensão do amor do Pai Eterno... Já para comércio, ser pai é mais uma grande oportunidade que a indústria tem nas mãos para “medir” a intensidade do carinho que os filhos têm para com os seus pais, intensidade esta medida pela qualidade e pelo valor do presente que darão.
Não sabem os empresários que o maior e melhor presente que todo bom PAI gostaria de receber - sem sombra de dúvidas - é a CERTEZA de que seu filho está trilhando – com suas próprias pernas - os caminhos que levam à HONESTIDADE, à HONRADEZ, à REALIZAÇÃO PESSOAL E PROFISSIONAL e , principalmente, à FELICIDADE.


A todos aqueles PAIS DE VERDADE, antecipo aqui os meus votos de muita FELICIDADE pela passagem do seu dia.
MEUS VERSOS LÍRICOS

VELHOS AMORES
(Joésio Menezes)

Despido dos meus cínicos pudores,
Aspiro o perfume da poesia
Que, sob os encantos da sua magia,
Me faz recordar os velhos amores

Responsáveis pelas infindas dores
Que enchem esse peito de agonia,
Causando-lhe uma louca arritmia,
Sufocando meus versos amadores.

São amores antigos e latentes,
Que agem de maneira contundente,
Deixando minh’alma triste e dorida.

Mas é isso que me revitaliza:
Enquanto meu coração agoniza,
Os velhos amores me trazem vida.


RESPOSTA A UM PEDIDO DE SOCORRO
(Joésio Menezes)

- ao poeta Arnaldo Antunes -

Caríssimo poeta, aceita teu destino!...
Se o teu coração “já não bate nem apanha”,
É sinal que a dor do teu peito ladino
É tão somente dor oriunda de manha.

Se nada sentes tu: nem medo, nem calor,
Nem vontade de rir ou de chorar... coitado!
Sinto pena de ti, pois não sentes amor,
Nem dor, nem frio, nem nada, apenas afetado

Foste pelo voraz temor que os poetas
Natos dizem sentir quando a indiscreta
Emoção de viver uma paixão tamanha

Faz deles um zumbi sem nenhum sentimento
Que lhes sirva, porém, esse teu sofrimento
É nada mais que dor aliada à artimanha.
O MELHOR DA POESIA UNIVERSAL


BELEZA
(Almeida Garrett)

Vem do amor a Beleza,
Como a luz vem da chama.
É lei da natureza:
Queres ser bela? - ama.

Formas de encantar,
Na tela o pincel
As pode pintar;
No bronze o buril
As sabe gravar;
E estátua gentil
Fazer o cinzel
Da pedra mais dura...
Mas Beleza é isso?
Não; só formosura.

Sorrindo entre dores
Ao filho que adora
Inda antes de o ver
- Qual sorri a aurora
Chorando nas flores
Que estão por nascer –
A mãe é a mais bela
das obras de Deus.
Se ela ama! –
O mais puro do fogo dos céus
Lhe ateia essa chama
De luz cristalina:

É a luz divina
Que nunca mudou,
É luz... é a Beleza
Em toda a pureza
Que Deus a criou.


O MAIOR BEM
(Florbela Espanca)

Este querer-te bem sem me quereres,
Este sofrer por ti constantemente,
Andar atrás de ti sem tu me veres
Faria piedade a toda a gente.

Mesmo a beijar-me, a tua boca mente...
Quantos sangrentos beijos de mulheres
Pousa na minha a tua boca ardente,
E quanto engano nos seus vãos dizeres!

Mas que me importa a mim que me não queiras,
Se esta pena, esta dor, estas canseiras,
Este mísero pungir, árduo e profundo,

Do teu frio desamor, dos teus desdéns,
É, na vida, o mais alto dos meus bens?
É tudo quanto eu tenho neste mundo?
CRÔNICA DA SEMANA


COISAS DE PAI
(Edgar Borges, www.roraimaemfoco.com)

É pouco mais de meio-dia de um meio de semana qualquer. Dia frio, com os costumes trocados. Almoço em casa, perto de meu filho. O normal é sair de manhã e voltar à noite, bem noite. Deitado na cama, observo o moleque dormir tranquilo depois de ter virado a noite acordado. Literalmente, é o sono dos puros. Eu? Carrego o cansaço dos adultos.
O curumim há semanas já consegue virar a cabeça de um lado para outro. Acho que vai ser mais esperto que o índio velho, que nasceu de oito meses, foi parar na incubadora para não morrer e ainda hoje é lerdinho.
Admiro a negritude de seu cabelo e percebo, pela primeira vez, que há um redemoinho na cabeça do menino. É parecido com aquelas fotos aéreas de furacão, que mostra como o vento se espalha pelo mar.
Com um dedo e sem tocá-lo – a mãe me esfola se acordar o guri – acompanho e desenho no ar o furacão no cabelo do indiozinho. Faço isso várias vezes, mostro o redemoinho para a índia velha Zanny, rio, é março, choveu a manhã toda e o que tem se me atraso um pouco para chegar no trabalho?
Grande coisa a descoberta do furacão? Não sei. Só tenho certeza que agora sei como é ser um pai bobo, desses que se encanta com quase tudo o que o filho traz de novidade para a nossa vida.