quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

CRÔNICA DA SEMANA

BUSCA
(Débora Bottcher)

A moça queria prometer que amanhã vai acordar mais feliz e ter um dia mais leve. Que vai sorrir mais e tornar as horas menos densas.
A moça deseja amanhecer sem sentir-se sufocada - como se o sol lhe ardesse a pele tirando-lhe o ar fazendo-a sentir-se como quem vai desaparecer pra sempre, nunca mais respirar...
A moça gostaria de selar um compromisso com a paz, mas a vida anda lhe doendo um pouco e tem sido difícil sobreviver.
Quando, de repente, ela se pega admirando a Lua, quase não consegue entender o silêncio de luz que a embala debaixo do manto azul do céu e uma certa quietude interior a abraça; mas ao baixar os olhos ao redor, esse deslumbre se desvanece e uma curiosa escuridão novamente se instala.
A moça sente saudades do que não consegue se lembrar...
Alguém vai dizer a ela que a vida é assim: de altos e baixos, alegrias e dores, amor e indiferença, incompreensões e sentimentos desconexos.
A certa altura, a moça sabe que todos finalmente se rendem a essa ideia e ela acredita que verdadeiramente se seja capaz de compreender os ciclos de ventura e desilusão.
Mas ainda é cedo para ela: a moça ainda não aceita essa rotina escancarada de mesmice, essa angústia, essa indescritível irritação, um curioso medo. E procura, incansável, pelas frestas, pelas bordas, pelas fendas do tempo aquele raio de esperança que ela acredita existir...

Fonte: Crônica do Dia

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