terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

CRÔNICA DA SEMANA

O COVEIRO, A SOLIDÃO
E O SILÊNCIO
(Aline Menezes)

Há coisas que só fazem sentido no depois, porque no agora somos absorvidos de tal forma pela vida que nos tornamos incapazes de perceber o movimento da existência entre nós. A vida que segue parece nos conduzir para o nada, um nada tão cheio de dúvidas e inquietações... Um nada que existe, que se aproxima da esperança ou da experiência dos cadáveres.
Estou sob o efeito da vida. Perambulo na agonia de um fardo, um fardo que carrego conscientemente. Arrasto-me até o horário em que não consigo mais enxergar uma saída... Encontro-me, também, completamente anestesiada, às vezes, talvez embriagada e entorpecida por um peso que já não suporto mais levar adiante. São muitas lembranças e muitas memórias acolhidas numa só vida, numa só alma solitária. Num corpo que teima.
Afasto-me vagarosamente dos sons das ruas, das vozes de dentro de casa, do barulho que lateja na minha cabeça. Minha tentativa de me embrulhar no silêncio fracassa a cada momento em que - de olhos abertos - vejo como as pessoas andam, sinto o que elas expressam, observo como se comunicam, como não se amam, como se disfarçam... fantasiadas, elas se revelam na frente do meu jeito atento de escutá-las.
O coveiro: única imagem coerente neste cenário tão particular que acabo de criar para aqueles que me leem, que tentam interpretar um mundo que não os pertence. O coveiro: cercado de sonhos hoje apodrecidos, amores proibidos, sentimentos intraduzíveis... O coveiro: personagem igualmente consumido pela solidão, pelo silêncio daqueles que já não respiram mais, não sentem o cheiro das flores amarelas, tampouco sentem o esvair-se da própria vida...
... mas estou aqui, ainda que longe dos olhares do coveiro, sinto-me tão perto do silêncio dos mortos.


Um comentário:

  1. Fantasias e ilusões são características marcantes em sua crônica...o que através das palavras demonstra revolta intensa e insatisfação com a vida...Já li outras publicações escritas pela senhora onde persebo que não se satisfaz com a vida que Deus lhe deu...parece ser leitora de Gikovati!!!saia do buraco, tire a máscara, as ilusões e volte a vida...é aqui que vive não no semiterio...os sonhos aqui não realizados...serão no plano de Deus no seu tempo concretizado...largue a revolta e fantasia, mas fuja dos desfarces e mostre ao mundo o és de verdade senhorita...tens contato??

    ResponderExcluir