quinta-feira, 28 de junho de 2012

UM DEDO DE PROSA

ENTRE ERROS E ACERTOS

Por vezes pensei em desistir de tudo, porém, sempre que nisso eu pensava, uma voz angelical soprava-me nos ouvidos: “segue em frente, tu vais conseguir! Não te desanimes!”... E por causa dessa voz, muitas foram as vezes que consegui equilibrar-me diante dos frequentes escorregões ao longo da vida, e que me levantei após as inúmeras quedas que levei no decorrer dessa minha jornada terrena.
Por vezes deixei de fazer o que achava certo; não por ignorância, mas por medo de que aquilo não fosse o certo na concepção das outras pessoas, e, em consequência disso, me arrependi amargamente de não tê-lo feito. O medo de errar leva-nos a cometer erros muitas vezes irremediáveis, inadmissíveis, imperdoáveis...
Enfim, por vezes errei, e por meio desses meus erros descobri que errando se é possível descobrir o caminho do acerto, da normalidade e, quiçá, da perfeição... pois, como bem disse a professora Regina Schultz, “quem nunca um erro cometeu, também nunca algo descobriu”.
MEUS VERSOS LÍRICOS

EU SEM VOCÊ
(Joésio Menezes)


- à minha esposa -

Eu, sem você, sou metade do nada
E nada sei o que fazer da vida,
Pois ela se torna inanimada
Com sua ausência ao meu peito dorida.

Sem você me seria desgraçada
A sorte que me fora atribuída,
Sorte essa que já me chegou privada
Da chance de se obter sobrevida.

Desde que me tornei o seu marido,
Sem você a vida não faz sentido,
Me sinto sem rumo, desnorteado...

Eu simplesmente chegaria ao fim
Sem você aqui bem perto de mim.
Por isso peço: “fique ao meu lado!”


SONHANDO ACORDADO
(Joésio Menezes)

Sonhar acordado contigo
É o que mais faço na vida.
E sem tais sonhos não consigo
Sequer concentrar-me na lida.

Desses sonhos não me desligo,
Pois eles servem de guarida
Ao meu coração sem abrigo,
À minh’alma desvanecida.

Contigo eu vivo sonhando;
E tais sonhos vão se tornando
Rotineiros nesse meu fado...

Portanto, peço ao bom Deus
Que sigam esses sonhos meus,
Mesmo qu’eu esteja acordado.

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

PEDAÇOS DE MIM
(Martha Medeiros)

Eu sou feito de
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos

Sou feito de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão

Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci

Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante

Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas

Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar

Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei

Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo.


EU TE AMO
(Chico Buarque)

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora 
Me conta agora como hei de partir

Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios 
Rompi com o mundo, queimei meus navios 
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós, nas travessuras das noites eternas 
Já confundimos tanto as nossas pernas 
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão 
Se na bagunça do teu coração 
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido 
Meu paletó enlaça o teu vestido 
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos 
Teus seios inda estão nas minhas mãos 
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás só fazendo de conta 
Te dei meus olhos pra tomares conta 
Agora conta como hei de partir
CRÔNICA DA SEMANA

SUMI
(Martha Medeiros)

Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro antes, durante e depois de te encontrar.
Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de lidar, pior é não ter Presente e o Passado ser mais fluido que o ar.
Sumi porque não há o que se possa resgatar. Meu sumiço é covarde, mas atento; meio fajuto meio autêntico.
Sumi porque sumir é um jogo de paciência; ausentar-se é risco e sapiência. Pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu lado... A saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

UM DEDO DE PROSA

TRILHAS SONORAS

Mais uma vez aqui estou para falar-lhes dos tempos idos... Daqueles tempos em que tudo que era bom ficou para trás, principalmente no que se refere ao romantismo e às boas músicas, as quais embalavam o romance dos casais apaixonados e com as quais costumava-se curtir as “dores de cotovelo” após um pé-na-bunda do(a) amado(a).
Goodby My Love, Goodby (Demis Roussos), Do You Love Me (Sharif Dean), How Can I Tell Her (Lobo), You Know My Dream (Ruser), Love Of My Life (Quenn), dentre outras. Todas elas são canções do tempo em que tudo parecia ser mais romântico; em que a vida parecia mais bela; em que os homens eram mais cavalheiros e bem mais apaixonados; em que as mulheres valorizavam-se mais; em que saber dançar de rosto colado era essencial para se conquistar garotas; em que os “ficantes” não tinham vez...
Os anos se passaram, e para trás ficaram o cavalheirismo, o romantismo e as boas lembranças do meu tempo de menino, de adolescente e de pós-adolescente. Lembranças essas resgatadas graças à boa memória do tal YouTube, que traz à tona todas as nossas paixões que ficaram no passado, com direito, inclusive, a TRILHAS SONORAS correspondentes a cada uma delas.

MEUS VERSOS LÍRICOS

SONETO AO TEU SORRISO
(Joésio Menezes)
  
Esse teu sorriso
Sincero e insinuante
Me tira o juízo,
Me deixa radiante...

Me leva ao paraíso
E de forma extasiante
Me deixa indeciso
Tal qual um iniciante.

Esse riso teu
Me leva ao apogeu
E felicidade me traz.

E se ele tem o poder
De abrandar o meu sofrer,
De muito mais será capaz!...


COMO SE FUERA NERUDA
(Joésio Menezes)

Caen pensamientos de amor
Sobre mis versos tristes...
La poesía, cuyos versos
Son una oda a la vida,
Es la bandera de mi existencia.

Decir que siempre te amaré,
Hago una serenata todos los dias
Bajo el miedo de perderte
Para la tiranía del despecho amoroso.

Pero, ajeno a lo que piensa la bella
De la calle de los enamorados,
Voy a contarte en secreto:
Yo te he nombrado reina de mi castillo
Y musa de mi arte poética.

Quiero que sepas, aún, amada mia,
Que mi cuerpo siente sed de ti,
Y hambre de tu amor,
Responsable por el regreso de mi tristeza.

Por eso, pido silencio a las estrellas
Mientras lloro la ausencia
De tu risa, de tus ojos, de tus besos...
Delirios de los pobres muchachos,
Tus esclavos antes de mi.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

AO ENCONTRO DO SEU CORAÇÃO
(Graciela da Cunha & Ginna Gaiotti)

Estou como abelha
ziguezagueando
por todos os lugares,
mergulhando em
alta velocidade,
dando rasante
para chegar
em seu coração...
Sinto borboletas
voando sobre mim,
rasgando a noite e
colorindo a escuridão!
É o frio no peito
anunciando paixão.
Sou eu pedindo amor,
tentando chegar
em seu coração...


POEMA ANTIGO
(Caio Fernando Abreu)

Está tudo planejado:
se amanhã o dia for cinzento,
se houver chuva
se houver vento,
ou se eu estiver cansado
dessa antiga melancolia
cinza fria
sobre as coisas
conhecidas pela casa
a mesa posta
e gasta
está tudo planejado
apago as luzes, no escuro
e abro o gás
de-fi-ni-ti-va-men-te
ou então
visto minhas calças vermelhas
e procuro uma festa
onde possa dançar rock
até cair.

CRÔNICA DA SEMANA

GENTE FINA
(Martha Medeiros)

Gente fina é aquela que é tão especial que a gente nem percebe se é gorda, magra, velha, moça, loira, morena, alta ou baixa. Ela é gente fina, ou seja, está acima de qualquer classificação. Todos a querem por perto. Tem um astral leve, mas sabe aprofundar as questões, quando necessário. É simpática, mas não bobalhona. É uma pessoa direita, mas não escravizada pelos certos e errados:sabe transgredir sem agredir.
Gente fina é aquela que é generosa, mas não banana. Te ajuda, mas permite que você cresça sozinho.
Gente fina diz mais sim do que não, e faz isso naturalmente, não é para agradar.
Gente fina se sente confortável em qualquer ambiente: num boteco de beira de estrada e num castelo no interior da Escócia.
Gente fina não julga ninguém – tem opinião, apenas. "Um novo começo de era, com gente fina, elegante e sincera". O que mais se pode querer?
Gente fina não esnoba, não humilha, não trapaceia, não compete e, como o próprio nome diz, não engrossa. Não veio ao mundo pra colocar areia no projeto dos outros. Ela não pesa, mesmo sendo gorda, e não é leviana, mesmo sendo magra. Gente fina é que tinha que virar tendência nesse mundo. Porque, colocando na balança, é quem faz a diferença.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

UM DEDO DE PROSA

AFINAL, EM QUE CONTRIBUI A RIO+20?...

De hoje até o dia 22/06, os olhos do mundo estarão voltados para o Rio de Janeiro, onde acontecerá a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, denominada Rio+20.
O objetivo dessa Conferência – dizem eles! - é “a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes”.
A Rio+20 é assim conhecida devido aos vinte anos de realização da 1ª Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (também realizada no Rio de Janeiro, em 1992), a qual deveria contribuir para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as décadas seguintes. Deveria, mas o que podemos ver é que nada mudou durante esses 20 anos, a não ser as contas bancárias dos envolvidos na referida Conferência.
Lembram-se do Protocolo de Quioto, uma outra Convenção das Nações Unidas em que discutiram a mudança climática? Pois é!... Os principais envolvidos naquele tratado nunca o respeitaram e são os que mais poluem o Planeta e os que menos dão importância aos problemas climáticos e à preservação do meio ambiente.
Na verdade (acredito eu), aqui eles estão reunidos mais uma vez para especularem o que o Brasil ainda tem de riquezas naturais para eles explorarem.
Espero estar enganado!...


MEUS VERSOS LÍRICOS

VÍCIO
(Joésio Menezes)

Viciado eu fiquei
Quando teus lábios beijei
E senti teu corpo quente...
Hoje, não mais eu consigo
Viver longe do perigo
Desse vício contundente.

E meu corpo já tomado
Por esse vício danado
Não consegue mais conter
Os impulsos da abstinência
Que se nega a ter clemência
Por meu peito a sofrer.

E sofre tanto o meu peito
Que já não mais sei direito
Se é fácil ou difícil
Suportar tanta aflição
Dentro do meu coração,
Causada por esse vício.


EFEITO CASCATA
(Joésio Menezes)

Cachoeira mudou de classe.
Não mais é Substantivo Comum.
É Próprio!... e o seu disfarce
Na política causou zumzumzum.

De quedas-d’água não mais se trata,
Pois, também, mudou sua definição,
Entretanto, seu efeito cascata
Levou políticos à corrupção.

Hoje, sob o gênero masculino,
Cachoeira vai mudando o destino
Dos que nas suas águas se jogaram

E seguiram o curso da correnteza
Levando na mala toda a riqueza
Que, descaradamente, nos roubaram.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

SOLITÁRIO
(Augusto dos Anjos)

Como um fantasma que se refugia 
Na solidão da natureza morta, 
Por trás dos ermos túmulos, um dia, 
Eu fui refugiar-me à tua porta!

Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos contorta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!

Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele, 
-- Velho caixão a carregar destroços –

Levando apenas na tumba carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!


UM CLOWN DE SHAKESPEARE
(Lucia Pereira Bezerra)

Se ontem eu me desfiz
E hoje, por acaso,
Eu me desfaço,
É que não trago
No rosto verniz
Tampouco maquilagem
De palhaço.

Não trago no meu peito
Um órgão fechado
E de aço
De tamanho tal e tal jeito
Que se atrasa ou se apresse
Que, assim, parece que é feito
De algum tipo de poliéster
Ou um outro tipo de plástico.

Se ontem eu desapareci
Eu hoje não mais me acho
É que em meu rosto cansado
Tem uma máscara a cair,
Um rio efêmero a fluir
Ou quem sabe um riacho.

Não.
Meu coração é um rio fantástico,
Caudaloso e que, acreditem, quase sorri;
Similar a pequenos e numerosos pássaros,
No espaço, sem saber o caminho a seguir.

Meu coração é um clown de Shakespeare
Em uma armadura de tarlatana e titânio.
Meu coração é de um poeta-mecânico,
Dono do meu destino e Senhor de mim.

Por isso ontem me desfiz
E hoje me desfaço:
É que não trago
No rosto verniz
Tampouco maquilagem
De palhaço
CRÔNICA DA SEMANA

A NATUREZA E A MÃO DO HOMEM
(Juarez do Brasil)

Arrumei as malas e parti com minha esposa, filhos e uma amiga para o Centro Oeste do Brasil. Estávamos ansiosos para ver as belezas daquela região que víamos apenas na televisão ou em revistas. Quando chegamos a Goiás já começamos a vislumbrar uma paisagem diferente daquela que estávamos acostumados, e à medida que nossa viagem prosseguia podíamos contemplar as belezas naturais, mas muitas delas já alteradas pelo homem.
Quando chegamos ao pantanal fomos agraciados com uma enorme variedade de pássaros e cada um com seu canto próprio nos encantava a todos. Animais silvestres apareciam de vez em quando em nosso caminho e inúmeros jacarés descansavam ás margens de pequenos lagos á beira da transpantaneira. Percebíamos que mesmo naquele paraíso ecológico a mão do homem fazia estragos. Víamos queimadas e desmatamentos. Eu particularmente questionava cada atitude do homem, até mesmo a nossa naquele instante. O que eu fiz pelo meio ambiente? Como eu preservava? Será que eu não estava também contribuindo para sua destruição, afinal estava fazendo o percurso de carro. Então naquele instante percebi que é mais fácil criticar do que preservar o meio ambiente. Pensamos às vezes que só as queimadas e o corte desordenado de árvores destroem a natureza, pensamos que só os lixos jogados nos rios poluem.
Esta viagem me fez acordar e ver o outro lado da moeda. A preservação começa onde estou porque somos um todo e não parte isolada. Percebi também que é muito difícil formar uma consciência ecológica, principalmente nas pessoas mais velhas. Lembrei-me de meu pai, que muitas vezes agrediu a natureza achando que contribuía para a sobrevivência dela. Quando eu dizia que aquilo estava errado, por exemplo, as queimadas, ele insistia em dizer que o capim nascia muito mais viçoso e forte, e mais rápido. Quando falava dos agrotóxicos, relutava em aceitar os meus escassos conhecimentos aprendidos na escola. Tentava usar os métodos naturais só para me agradar, mas logo desistia, pois os outros produtos agiam mais rápido.
Percebi que minha filha de cinco anos tem maior respeito à natureza do que eu, pois vez ou outra na viagem, sem perceber, acabava jogando papéis de bala ou outros objetos na estrada. Ela docemente me corrigia dizendo que eu agia como os homens malvados, os quais destroem o meio ambiente, sempre que via alguma destruição, como árvores caídas ou animais mortos à beira do caminho ela dizia que eram os homens maus que tinham feito aquilo.
Conclui que muito ensinamos, mas pouco praticamos do que ministramos. De qualquer forma vale a pena, pois com certeza as nossas palavras positivas e em defesa da vida produzirão frutos, como produziu em minha filha.


quinta-feira, 7 de junho de 2012


UM DEDO DE PROSA

PRELÚDIO SOBRE A VELHICE

O tempo é implacável e imparcial.
Implacável porque enquanto seus ponteiros giram numa velocidade incontrolável, os seres (animados ou inanimados) se desgastam a tal ponto de não mais se revitalizarem. Imparcial porque não escolhe sexo, cor, nacionalidade ou classe social.
Tudo nessa vida envelhece com o passar do tempo, a menos que se acabe precocemente. Daí a preocupação de muitos de nós: a velhice, “o último quartel da vida”, pois não sabemos como lidar com ela, o que fazer quando da sua chegada, como nos preparar para essa hora...
Muitos maldizem a velhice devido aos problemas de saúde que vêm junto com ela; e dizem não querê-la, mas só se escapa desse estágio da vida morrendo ainda jovem. Portanto, devemos nos colocar no lugar dos idosos e tratá-los como gostaríamos de ser tratados, pois um dia seremos velhos, a não ser que morramos antes.
E o que mais me preocupa é que em nosso país os idosos não são tratados como merecem: com muita atenção, dedicação e respeito por tudo que eles fizeram em prol da nação e o que ainda podem fazer com a experiência adquirida ao longo do tempo.
Alguns anos atrás, foi criado o Estatuto do Idoso, porém são notórios a desobediência a seus artigos e o desrespeito a seus beneficiários, principalmente por parte do Estado, que nada faz para que o documento criado por ele seja seguido à risca. O abandono e o descaso para com nossos idosos ocorrem, muitas vezes, dentro das suas próprias casas e estende-se por toda a sociedade.
Que bom seria se os idosos de todo o mundo recebessem o tratamento respeitoso que recebem os do Japão!... Lá eles são reverenciados e tratados como mestres pelos mais jovens e, principalmente, pelo Estado, pois são eles ícones da sabedoria e do conhecimento, os quais podem ser repassados aos mais novos.
É como bem disse Séneca, filósofo romano nascido no ano 4 a.C: “quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem, Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres”.

MEUS VERSOS LÍRICOS

MELHOR IDADE
(Joésio Menezes)

Chamam a velhice Melhor Idade...
O porquê disso procuro saber,
Já que o vigor, a virilidade,
Desaparece co’o envelhecer.

Com ela nos chegam enfermidades
E o corpo passa a desfalecer...
E por causa dessa realidade,
Os neurônios começam a morrer.

Quando a tal velhice vem à tona,
O raciocínio não mais funciona
E os bons-tempos ficam para trás.

Melhor idade?... absolutamente!
Pois nessa fase o idoso sente
Que utilidade não terá mais.


TRÊS BORBOLETAS
(Joésio Menezes)

Três borboletas libertinas
Delicadamente pousaram
Nas tuas “ancas” femininas
E por lá se acomodaram...

E esses meus olhos tão traquinas
Lascivamente observaram
As borboletas pequeninas
Nos teus quadris e as flertaram.

Desse flerte surgiu um desejo
Apaixonante e benfazejo
Que afetou meu coração...

E desde esse dia eu vivo
Das três borboletas cativo,
E teu corpo é a prisão.

O MELHOR DA POESIA UNIVERSAL

AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER
(Luís de Camões)

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?


O AMOR
(Fernando Pessoa)

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..

CRÔNICA DA SEMANA

AUSÊNCIA

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar teus olhos que são doces porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto, a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite; porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa; porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz perenizada...