terça-feira, 27 de janeiro de 2009

UM DEDO DE PROSA


VOLTA ÀS AULAS

As férias terminaram... E cá estamos nós, mais uma vez, preparando nossos "Planos de Aula", os quais nem sempre serão utilizados, pois quando estamos em sala, diante dos alunos, todo aquele planejamento "vai por água abaixo", às vezes por causa de inteligentes perguntas dirigidas a nós, o que nos faz fugir do que foi planejado. Em outras ocasiões, isso ocorre devido à empolgação do professor, que vai um pouco além do que foi, burocraticamente, posto no papel. Isso ocorre sempre!...
Que atire o primeiro pedaço de giz o professor que nunca deixou de lado seu planejamento!
Mas o pior não é fugir do seu planejamento, mas sim sair da tranquilidade que nos foi dada quando das nossas férias.
Nada de planejamento (a não ser o da viagem que não foi possível ser realizada), nada de escola, nadica de alunos (nada contra eles, mas tudo a favor do sossego!), nada de provas para corrigir, nada de diários para preencher, nada de notas a serem entregues à secretaria...
Mas não fossem todos esses fatores rotineiros em nossas vidas, não teria sentido a razão de vivermos.
Alguns podem estar pensando que devo estar louco!...
Pode até ser!... Mas quando estou em férias, sinto muita falta disso tudo. Principalmente deles, os alunos.
MEUS VERSOS LÍRICOS



CORAÇÃO PARTIDO
(Joésio Menezes)

Partiste meu coração ao meio
E uma metade levaste contigo.
O pedaço que ficou comigo
De saudades está cheio.



E por isso hoje eu receio
Que o meu pobre e velho amigo
Não suporte tremendo castigo
E ao amor se torne alheio.

Receio também que os sons da paixão
Não mais ecoem no meu coração
Partido e por ti abandonado,

Pois tu és para ele tudo
E sem ti não pulsa, fica mudo,
Sente-se vazio e fragmentado.


PALAVRAS SOLTAS
(Joésio Menezes)

Nas mãos, caneta e papel.
Na mente, palavras soltas,
Curiosamente envoltas
Por um invólucro véu.

E elas se juntando vão
Em forma de poesias
Que versam as agonias
Do meu ímpio coração.

Muitas delas, contundentes;
Outras bem mais divergentes,
Surgirão verso a verso.

E no papel já escritas,
Elas, sendo ou não benditas,
Entrarão no Universo.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL


O AMOR
(Vanilson Reis)

O amor é uma ilusão eterna
Que produz angústia
Em nosso peito
Dado como consolação
Aos homens desesperados.

Quando o amor tece sonhos
A gente se completa
Veste a alma com palavras
Amamento o sentimento.

Ninguém vive a ternura do amor
Porque ele não existe para
Sempre.
Ah! Se existisse, meu Deus...
E tudo fosse diferente.

Um dia o mundo mudará
E as pessoas se tornarão
Cativas do amor.
E o homem que não mente
Aclamará suas emoções
Nos olhos da mulher.


AMOR BASTANTE
(Paulo Leminski)

Quando eu vi você,
tive uma idéia brilhante:
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante.

Basta um instante
e você tem amor bastante.

Um bom poema
leva anos...
Cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando juntos.
CRÔNICA DA SEMANA


COMO SERÁ DAQUI PRA FRENTE?
(Elida Kronig)

Estive vendo as novas regras da ortografia.
Na verdade, já tinha esbarrado com elas trilhares de vezes, mas apenas hoje que as danadas receberam uma educada atenção de minha parte. Devo confessar que não foi uma ação espontânea.
Que eu me lembre, desde o ano retrasado que uma amiga me enche o saco para escrever a respeito. O faço com a esperança de que diminua o volume de e-mails e torpedos que ela me envia. Em suma, que as novas regras ortográficas mantenham-na sossegada por um bom tempo.
Cai o trema!... Aliás, não cai... Dá uma tombadinha.
Linguiça e pinguim ficam feios sem ele, mas quantas pessoas conhecemos que utilizavam o trema a que eles tinham direito?
Essa espécie de "enfeiação" já vinha sendo adotada por 98% da população brasileira. Resumindo, continua tudo como está.
Alfabeto com 26 letras?
O K e o W são moleza para qualquer internauta, que convive diariamente com Kb e Web-qualquer coisa. A terceira nova letra de nosso alfabeto tornou-se comum com os animes japoneses, que tem a maioria de seus personagens e termos começando com Y. Esta regra, tiramos de letra.
O hífen é outro que tomba, mas não cai. Aquele tracinho no meio das vogais, provocando um divórcio entre elas, vai embora. As vogais agora convivem harmoniosamente na mesma palavra.
Auto-escola cansou da briga e passou a ser autoescola, auto-ajuda adotou autoajuda.
Agora, pasmem!
O que era impossível tornou-se realidade. Contra-indicação, semi-árido e infra-estrutura viraram amantes, mais inseparáveis que nunca. Só assinam contraindicação, semiárido e infraestrutura.
Quem será o estraga-prazer a querer afastá-los?
Epa! E estraga-prazer, como fica?
Deixa eu fazer umas pesquisas básicas pela Internet. Huuummm... Achei!
Essas duas palavrinhas vivem ocupadíssimas, cada uma com suas próprias obrigações. Explicam que a sociedade entre elas não passa de uma simples parceria. Nem quiseram se prolongar no assunto. Para deixar isso bem claro, vão manter o traço.
Na contra-mão, chega um paraquedista trazendo um paralama, um parachoque e um parabrisa - todos sem tracinho. Joguei tudo no porta-malas pra vender no ferro-velho. O paraquedista com cara de pão de mel ficou nervoso. Só acalmou quando o banhei com água-de-colônia numa banheira de hidromassagem.
Então os nomes compostos não usam mais hífen?
Não é bem assim!
Os passarinhos continuam com seus nomes: bem-te-vi, beija-flor. As flores também permanecem como estão: mal-me-quer.
Por se achar a tal, a couve-flor recusou-se a retirar o tracinho e a delicada erva-doce nem está sabendo do que acontece no mundo do idioma português e vai continuar adotando o tracinho.
As cores apelaram com um papo estranho sobre estarem sofrendo discriminações sexuais e conseguiram na justiça o direito de gozarem com o tracinho. Ficou tudo rosa-choque, vermelho-acobreado, lilás-médio...
As donas de casa quando souberam da vitória da comunidade GLS, criaram redes de novenas funcionando por 24h para que a feira não se unisse sem cerimônia aos dias da semana. Foram atendidas pelo próprio arcanjo Gabriel que fez uma aparição numa das reuniões, dando ordens ao estilo Tropa de Elite:
- Deixe o traço!
Deu certo. As irmãs segunda-feira, terça-feira e as demais, mantiveram o hífen.
Os médicos e militares fizeram um lobby, gastaram uma nota preta pra manter o tracinho. Alegaram que sairia mais caro mudar os receituários e refazer as fardas:
médico-cirurgião, tenente-coronel, capitão-do-mar.
Uma pequena pausa para a cultura, ocasionada pelo trauma de ler muitas pérolas do Enem e Vestibular. Só por precaução...
Almirante Barroso não tem tracinho. Assim era chamado Francisco Manuel Barroso da Silva. Sim, o cara era militar da Marinha Imperial. Foi ele quem conduziu a Armada Brasileira à vitória na Batalha do Riachuelo, durante a Guerra da Tríplice Aliança. No centro do Rio de Janeiro há uma avenida com seu nome (Av. Almirante Barroso). Na praia do Flamengo, há um monumento, obra do escultor Correia Lima, em cuja base se encontram os seus restos mortais. Fim da pausa!
Acho que algumas regras pra este tracinho, até que simpático, foram criadas por algum carioca apaixonado. Será que Thiago Velloso e André Delacerda tiveram alguma participação nas novas regras?
O R no início das palavras vira RR na boca do carioca. Não pronunciamos R (como em papiro, aresta e arara), pronunciamos RR (como em ferro, arraso e arremate). Falamos rroldana e não roldana, rrodopio e não rodopio, rrebola e não rebola.
Pois bem, numa das tombada do hífen, o R dobra e deixa algumas palavras com jeito carioca de ser: autorretrato, antirreligioso, suprarrenal. Será fácil lembrar desta regra. Se a palavra antes do tracinho (nem vou falar em prefixo) terminar com vogal e a palavra seguinte começar com R é só lembrar-se dos simpáticos e adoráveis cariocas.
Mais uma coisinha: a regra também vale para o S. Fico até sem graça de comentar isso, pois todos sabemos que o S é um invejoso que gosta de imitar o R em tudo. Ante-sala vira antessala, extra-seco vira extrasseco e por aí vai...
Quem segurou mesmo o hífen, sem deixá-lo cair, foram os sufixos terminados em R, que acompanham outra palavra iniciada com R, como em inter-regional e hiper-realista.
Estes tracinhos continuarão a infernizar os cariocas. O pré-natal esteve tão feliz, rindo o tempo todo com o pós-parto de uma camela pré-histórica que ninguém teve coragem de tocar no tracinho deles. Já o pró - um chato por natureza, foi completamente ignorado. Só assim manteve o tracinho: pró-labore, pró-desmatamento.
A vogal e o h não chegaram a nenhum acordo, mesmo com anos de terapia. Permanecem de cara virada um pro outro: anti-higiênico, anti-herói, anti-horário. Estou começando a achar que as vogais são semi-hostis com as consoantes...
O interessante é que as vogais quando estão próximas umas das outras, não tem essa de arquiinimigas. Fizeram lipo juntas e conquistaram uma silhueta antiinflacionária de microorganismo. Sumiram todos os tracinhos, notaram?
Vogal-vogal, com as novas regras ficam magrinhas: microondas, antiibérico, antiinflamatório, extraescolar...
Uma inovação interessante: Podem esquecer o mixto, ele foi sumariamente despedido. Puseram o misto no lugar dele. Fiquei bolada com essa exceção: o prefixo co não usa mais hífen. Seguiu os exemplos de cooperação e coordenado, que sempre estiveram juntas. Não estou me lembrando, no momento, de nenhuma palavra que use com tracinho.
Será que sempre escrevi errado?
Quem diria que o créu suplantaria a ideia!? Teremos que nos acostumar com as ideias heroicas sem o acento agudo.
Rasparam também o acento da pobre coitada da jiboia. O acento do créu continua porque tem o U logo depois. Pelo menos a assembleia perdeu alguma coisa...
Resta o consolo em saber que continuamos tendo um belíssimo céu como chapéu.
RESENHA LITERÁRIA


O BOBO
(Alexandre herculano)

O Bobo é um romance histórico de Alexandre Herculano, publicado inicialmente em "Panorama" em 1843 e editado postumamente em volume, apenas em 1878. O autor situa a narração no ano de 1128, dias antes da batalha de S. Mamede que opôs o exército de D. Afonso Henriques ao da sua mãe, D. Teresa. Assim, podemos assistir às tramas medievais e à estratégia usadas por ambos os exércitos, assim como sabemos o porquê do ódio que D. Afonso Henriques nutre pelo conde Peres de Trava, amante da mãe.
Nisso tudo, um homem tem um papel fundamental, alguém que todos menosprezam, alguém que aparentemente nada valia: D. Bibas, o Bobo da corte.
Em O Bobo as personagens históricas são relegadas para segundo plano e a ênfase é colocada em D. Bibas. É ele quem põe em relevo a importância de valores como a lealdade e a liberdade individual (D. Bibas recusa ser “escravo” de Fernando Peres de Trava, o qual, ao longo do romance, é objeto principal das suas graças). É, aliás, sintomático que Herculano sinta a necessidade de sublinhar que “A história não conheceu D. Bibas” (Herculano 1992b:178).
É através das ações deste último, principalmente quando facilita a fuga dos aliados de Afonso Henriques pela passagem subterrânea que só ele conhece (Herculano 1992b:137-38), que o leitor é convidado a refletir sobre o papel que pode vir a desempenhar na História do seu país. A importância dada a D. Bibas não impede, no entanto, que Herculano pinte em detalhe a época em que os acontecimentos narrados tiveram lugar, mas antes facilita ao leitor o contato com a História.

(Fonte: www.passeiweb.com)
GRANDES NOMES DA LITERATURA


ALEXANDRE HERCULANO
(www.mundocultural.com.br)

Nascido em Lisboa a 28 de Março de 1810, o escritor e historiador Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo envolveu-se nas lutas liberais e, por isso, foi mandado para o exílio na França em 1831. No ano seguinte partiu para a Inglaterra e regressou a Portugal integrando o exército de D. Pedro no cerco à cidade do Porto.
Em 1833 assumiu as funções de segundo bibliotecário na Biblioteca Pública do Porto. Em 1836 foi para Lisboa e passou a dirigir a revista "O Panorama", principal veículo de divulgação do Romantismo em Portugal. Ainda nesse ano, publicou "A Voz do Profeta".
Em 1839 assumiu a função de diretor da Real Biblioteca da Ajuda. Entre 1850 e 1860, exerceu grande atividade jornalística e política e, a partir de 1867, foi para a Quinta de Vale de Lobos (Santarém), onde dedicou-se quase que exclusivamente às suas propriedades.
A sua obra literária é muito extensa. Como historiador, destaca-se "A História de Portugal" (1853) e a "História e Origem da Inquisição em Portugal" (1859). Ele escreveu ainda contos e novelas que foram reunidos na obra "Lendas e Narrativas (1851).
Entre nós, brasileiros, Alexandre Herculano ficou mais conhecido por suas narrativas históricas, dentre as quais se destacam "O Monge de Cister" (1841), "O Bobo" (1843) e "Eurico, O Presbítero" (1844), esta considerada a sua obra prima
Faleceu em 1877, apagando-se assim a chama do homem de maior prestígio intelectual e moral da sua geração.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

UM DEDO DE PROSA



“SIM, NÓS PODEMOS”


Hoje, enquanto o mundo inteiro está de olhos e ouvidos atentos ao juramento do novo inquilino da Casa Branca, preparei meu discurso de posse para quando eu for eleito a "um lugar ao sol".

Sim, nós podemos (e devemos) acreditar em nós mesmos, na nossa sensibilidade, na nossa sensatez, na nossa capacidade de doar sem esperar pagamentos, de assumir nossos erros e tentar corrigi-los, de perdoar, de amar, de pensar, de ensinar e de aprender.
Sim, nós podemos realizar o sonho de Martin Luther King e viver em harmonia como se fôssemos todos irmãos. Nós podemos acabar com a guerra, propagar a paz, abnegar o preconceito, eliminar a desigualdade social, erradicar a miséria, extirpar a fome, abolir a inveja, exterminar os conflitos étnicos e religiosos, mudar a mentalidade do homem...
Sim, nós podemos (e precisamos) transformar a dor, as lágrimas e os lamentos provocados pela guerra e pela fome em uma ode de esperança e oferecê-la aos líderes das grandes potências políticas, bélicas e econômicas, a fim de que eles possam refletir sobre o destino da humanidade.
Sim, nós podemos usar a natureza como nossa aliada tirando proveito do que ela tem de melhor,mas sem a necessidade de destruí-la. Nós podemos preservar a vida, semear a esperança, cultivar a paz e colher amor. Nós podemos fazer do nosso meio o reflexo do que desejamos ser. Nós podemos ser grandes sem diminuir os nossos semelhantes.
Sim, nós podemos (e queremos) fazer das nossas ambições o estandarte da humildade, da tolerância, da sapiência, do amor, da paz e da união. Enfim, nós podemos recriar o mundo sem almejar o lugar do seu Criador.
Sim, nós podemos!...
MEUS VERSOS LÍRICOS


ÀS ESTRELAS
(Joésio Menezes)

Olho para o céu sem estrelas
E eu aqui sem poder vê-las
Me ponho, solitário, a versejar.
Escrevo pra elas e também pra lua,
Mas sob a timidez da noite nua
Meus versos se recusam a rimar.


E ao cair do orvalho, a madrugada fria
Me traz tristes gotas de poesia
Sem o brilho dos astros luminosos,
Porém os belos raios do luar
Inspiram-me e, sem titubear,
Escrevo alguns versos harmoniosos.

Às estrelas eu os dedico
E humildemente me prontifico
A escrever-lhes outros rimados.
Mas faço duas ressalvas somente:
Que elas sejam inda mais presentes
E sejamos eternos namorados.


MEUS PENSAMENTOS
(Joésio Menezes)

Quando começo a pensar
Nos encantos da natureza;
Na florada primaveral;
Na sensibilidade das flores;
Na beleza da rosa;
No balé dos colibris;
No vai-vem das borboletas;
No majestoso sol poente;
No feitiço do luar;
No orvalho da madrugada,
É em ti que estou pensando.

Mas quando penso
No significado da vida;
Na magia da felicidade;
No sentimento de saudade;
Na angústia da espera;
No sofrimento do ciúme;
Na força da paixão;
No desejo da libido;
No fogo do tesão;
Na consumação do amor,
Também estou pensando em ti.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL


CREPÚSCULO
(Vivaldo Bernardes)


Desabou sobre mim feroz paixão,
no ocaso desta vida que se esvai,
e não sei que fazer do coração,
que ama e deste peito quase sai.



Minha mente acompanha o seu pulsar
e não faz restrições dos seus desejos,
aprovando, sem pôr ou retirar,
a loucura final dos seus almejos.

A mente e o coração que me dirigem,
atendem fielmente à natureza
e cumprem com rigor a humana origem.

Cedendo-me à paixão que me tortura,
eu vejo na mulher suma beleza,
sem par no que existe na natura.


NECESSIDADE
(Andréa Joy)

Necessito da inspiração dos poetas,
De suas vozes discretas
Proferidas por seus corações.

Necessito da paixão dos amantes,
Da sedução do antes,
Da conquista, da insensatez...

Necessito da submissão das mulheres,
De seus pilares, de suas vaidades,
De suas verdades incontestes,
De suas intempéries.

Necessito do lampejo envolto de desejos,
Das gargalhadas escancaradas
De quando estamos apaixonados.

Subitamente, necessito
Colocar você numa redoma de vidro
Para entregar-lhe os fragmentos
De todos os meus sentimentos.

Depois, olharei em seus olhos
E neles verei refletido o brilho
Dessa verdade nítida,
Dessa necessidade louca,
De que você me beije na boca
E faça parte da minha vida.
CRÔNICA DA SEMANA


SOBRE A CRÔNICA DA SEMANA
(Antonio Caetano)

A relação entre texto e autor é atravessada de ambiguidades. Quando acabei de escrever esta crônica, achei-a medíocre. Metafísica de quinta, esoterismo de salão, vago alinhavo de palavras eloqüentes. O que a salvou foi a obrigação de entregar uma crônica em dia e horário determinado. Valia como o retrato de uma noite.
Depois, ao lê-la em voz alta para gravá-la, fiquei encantado com a sonoridade de suas frases, com seu sinuoso equilíbrio.
Mesmo seu aspecto mais obscuro, ou digamos "noir", me parece agora uma metáfora da concentração necessária para se escrever um romance, uma peça de teatro, uma história mais longa do que uma crônica. Crônicas são como improvisos, uma jam session.
Enfim, entre o pai babão de sua cria e o crítico cruel da obra alheia, entre o aquém e o além, equilibra-se o autor em face de seu texto.
RESENHA LITERÁRIA


A MENINA QUE TECIA A VIDA COM AS PALAVRAS
(Por Ana Lúcia Santana)

Raros autores revelam uma poética tão inteligente, refinada, bem-humorada e sarcástica como Markus Zusak. A poesia que perpassa "A Menina que Roubava Livros" emociona o leitor sem ser piegas, desperta nele tanto alegria como tristeza, tanto revolta, quanto um certo conforto moral. Há muito tempo o escritor pensava em escrever sobre um personagem que furtava livros, mas sua idéia ainda não estava amadurecida. Quando pensou em unir este desejo ao de retratar o que seus pais haviam experimentado na época do Nazismo, nasceu este livro inesquecível.
Markus destaca neste romance a importância das palavras em um dos momentos mais dolorosos já vividos pela Humanidade. Realmente, ao lado da protagonista, Liesel Meminger, e de seu companheiro de aventuras Rudy Steiner, brilham as palavras, personagens especiais deste enredo, sempre no centro da ação, nas entrelinhas ou na tessitura da narrativa. Palavras que constroem e destroem, que Liesel ama e odeia. As cores também se sobressaem nesta história que se passa na época do Nazismo, em plena Alemanha hitleriana, narrada por ninguém menos que a Morte, sob o ponto de vista desta e com seus comentários geniais intercalados à narrativa. Aliás, esta narradora tem um jeito bem peculiar de interpretar as lembranças de Liesel, gravadas em seu diário – na verdade um livro, no qual a menina se reconcilia com as palavras e grava a essência de sua existência, perdido durante a Guerra e resgatado pela Morte, que o traduz ao leitor.
Para a narradora, não importa saber o que vai ocorrer no final do romance, o mistério suspenso, mas sim o trajeto narrativo e toda a riqueza inerente a ele – os recursos estilísticos, a prosa poética, a magia oculta nas entrelinhas, a emoção e o humor inusitado que se revelam aqui e ali, as surpresas lingüísticas, as tiradas metanarrativas, muitas vezes irônicas, doadas ao leitor pelo autor, através de sua narradora. Desta forma, o escritor questiona a narrativa tradicional, os mecanismos estratégicos que geram e mantêm o suspense, até a solução final do enigma, os quais condicionam a história à resolução deste, desprezando muitas vezes o valor da narração, as riquezas que dela podem ser extraídas. O autor propõe aqui uma valorização do percurso, dos recursos narrativos, da apropriação da linguagem como o próprio núcleo do enredo.
Nesta obra, o autor, através da Morte, tenta provar a si mesmo e ao leitor que a vida, apesar de tudo, vale a pena. Ele se confronta com os fantasmas de seu próprio passado, presentes na trajetória de sua família durante o Nazismo.
Outras histórias dentro da história aparecem ao longo do enredo – as dos livros roubados pela Menina, as dos que ela ganha em seus aniversários, desde as narrativas inerentes ás obras até as que envolvem seu furto ou a forma como foram presenteados - cigarros trocados por livros, ou histórias escritas e pintadas em um livro como o "Mein Kampf" ("Minha Luta"), de Adolph Hitler. Cada uma destas estórias é um retrato a seu modo da Alemanha Nazista, e enriquece ainda mais a narrativa principal.

(Fonte: www.letraselivros.com.br)
GRANDES NOMES DA LITERATURA


MARKUS ZUSAK
(Wikipedia)

Markus Zusak (Sydney, 1º de janeiro de 1975) é um escritor australiano.
Mais novo de quatro filhos de um austríaco e uma alemã, Markus cresceu ouvindo histórias a respeito da Alemanha Nazista, sobre o bombardeio de Munique e sobre judeus marchando pela pequena cidade alemã de sua mãe. Ele sempre soube que essa era uma história que ele queria contar.
"Nós temos essas imagens das marchas em fila de garotos e dos 'Heil Hitlers' e essa idéia de que todos na Alemanha estavam nisso juntos. Mas ainda havia crianças rebeldes e pessoas que não seguiam as regras e pessoas que esconderam judeus e outras pessoas em suas casas. Então eis outro lado da Alemanha Nazista", disse Zusak numa entrevista com o The Sydney Morning Herald.
Aos 30 anos, Zusak já se firmou como um dos mais inovadores e poéticos romancistas dos dias de hoje. Com a publicação de A Menina que Roubava Livros, um romance inusitado, poético, arrebatador, ele foi batizado como um 'fenômeno literário' por críticos australianos e norte-americanos. Zusak é Autor de "Fighting Ruben Wolfe", "Getting the Girl" e "I Am the Messenger", recebidos com aclamação pela crítica, obteve o Prêmio Livro do Ano para Leitores mais Velhos, doado pelo Conselho Australiano de Livros Infantis. Mora atualmente em Sydney, na Austrália.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

UM DEDO DE PROSA


E SOBRE A REFORMA ORTOGRÁFICA?...

Dizem os gramáticos que a "Reforma Ortográfica" é inevitável e necessária. Em alguns casos sou favorável à referida reforma. Cito como exemplo os acentos diferenciais presentes em palavras com a mesma pronúncia e classes gramaticais diferentes, tais como por (preposição) e pôr (verbo); pelo (preposição) e pêlo (substantivo); da (preposição) e (verbo), dentre outras, cuja "eliminação" não nos fará falta tampouco influenciará na pronúncia ou no significado que dependerá do contexto em que a palavra será inserida.
Porém, sou contrário à supressãso do trema (aqueles dois pontinhos sobre a letra u). Sou contrário também à ideia de que "será mudada apenas a grafia, a pronúncia continuará a mesma". Como assim?... Eu falo "esquilo" e não "esqüilo"; eu pronuncio "tranqüilo" e não "tranquilo".
Certamente alguém deve estar pensando que sou um conservador "tapado", ou até mesmo que tenho medo ou aversão às mudanças.
Nada disso!... Acho apenas que para nós, que aprendemos desde pequenos qual a pronúcia correta de cada uma dessas palavras, o desaparecimento dos "dois pontinhos" não influenciará na nossa maneira de falar. Entretando, aos pequeninos que estão iniciando a vida acadêmica isso poderá confudi-los, e muito!... Como fazê-los entender que o "qui" de esquilo é pronunciado diferentemente do "qui" de tranqüilo? Como fazê-los compreender que as pronúncias do "gui" de preguiça e do "gui" de lingüiça são distintas?... Difícil, não é mesmo?
Mas se a ideia é alçar voo rumo à uniformidade da língua portuguesa, então, que seja feita a vontade dos que veem e leem além das entrelinhas.
E viva a Língua Portuguesa!!!
MEUS VERSOS LÍRICOS



BAILANDO CON LA TRISTEZA
(Joésio Menezes)


Solo, sentado en mi habitación
Miro por la ventana cerrada,
Veo el imagen de mi amada
Y lloro, oyendo nuestra canción.


En mi pecho, un gran dolor
Hace de mi un hombre solitario
Que sigue triste su calvario
En busca de su verdadero amor...

Mis ojos, por la ventana mirando,
Ven la tristeza llegando
Y empiezan, enamorados, a llorar.

Y al compás de aquella melodía
Mi corazón, lleno de agonía,
Se queda, melancólico, a bailar.


OYENDO LAS ESTRELLAS
(Joésio Menezes)

Por la noche,
oigo el ruído de las estrellas.
Ellas tienem la costumbre
de decirme cosas dulces...
palabras sensillas...
versos de amor...

Enamorado de ellas, me quedo listo;
listo para comprenderlas,
listo para obedecerlas,
listo para murrir de amor...

Por toda la noche,
todas las noches,
las miro... las oigo... las interpreto...
y como las interpretaciones son personales,
llego a la conclusión de que ellas
también están enamoradas de mí.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL


EU ESCREVI UM POEMA TRISTE
(Mário Quintana)

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!


SONETO LXXXVIII
(William Shakespeare)

Quando me tratas mal e, desprezado,
Sinto que o meu valor vês com desdém,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E, inda perjuro, provo que és um bem.

Conhecendo melhor meus próprios erros,
A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
Então, ao me perder, tens toda a glória.

Mas lucro também tiro desse ofício:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefício,

Pois o que ganhas duas vezes ganho.
Assim é o meu amor e a ti o reporto:
Por ti todas as culpas eu suporto.
CRÔNICA DA SEMANA


CRÔNICA DO AMOR
(Arnaldo Jabor)

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem. Caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém ama outra pessoa por que ela é educada, veste-se bem e é fã de Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá ou elo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que e revela quando menos se espera.
Ah, o amor essa raposa!... Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
Não funciona assim. Amor não requer conhecimento nem consulta ao SPC. Ama-se pelo que o Amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim ó!...
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor de sua vida é.
RESENHA LITERÁRIA


MEMÓRIAS DO CÁRCERE
(www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira)

Memórias do Cárcere é um livro de memórias de Graciliano Ramos, publicado postumamente (1953) em dois volumes. O autor não chegou a concluir a obra, faltando o capítulo final.
Graciliano havia sido preso em 1936 por conta de seu envolvilmento político, exagerado por parte das autoridades ditatoriais após o pânico insuflado com a chamada Intentona Comunista, de 1935. A acusação formal nunca chegou a ser feita.
Em Memórias do Cárcere, publicação póstuma, Graciliano Ramos ocupou seus últimos anos, tornando públicos, “depois de muita hesitação”, acontecimentos da sua e da vida de outras pessoas, políticos ou não, intelectuais ou não, homens e mulheres, presos durante o Estado Novo.
Nos três primeiros parágrafos do livro ele se explica, justificando a demora de dez anos. E, depois, resolvido a escrever, sabe que sua narrativa será amarga: “Quem dormiu no chão deve lembra-se disto, impor-se disciplina, sentar-se em cadeiras duras, escrever em tábuas estreitas. Escreverá talvez asperezas, mas é delas que a vida é feita: inútil negá-las, contorná-las, envolvê-las em gaze”.
O intuito de Graciliano se realizou. Fiel aos acontecimentos, não escondeu, não negou, não exagerou: “Escreveu, realmente, com exatidão espantosa, com rigor excepcional. Tudo o que é negro, em sua narração, é negro pela própria natureza, o que é sórdido porque nasceu sórdido, o que é feio é mesmo feio. Não há pincelada do narrador no sentido de frisar traços, de agravar condições, de destacar minúcias denunciadoras.”(Nélson Werneck Sodré, prefácio de Memórias do Cárcere).
Em 1936, quando esteve preso no pavilhão dos primários, na Casa de Detenção, Graciliano conheceu Vanderlino, “um homem útil”, habilidoso, capaz de esculpir peças de um jogo de xadrez depois de dividir um cabo de vassoura em 32 pedaços iguais. Criminoso comum, homem humilde, foi ele quem, mais tarde, na Colônia Correcional, apresentou um amigo a Graciliano. “Admirou-me a franqueza de Vanderlino ao dizer o nome e o ofício do personagem: -Gaúcho, ladrão, arrombador.”
Gaúcho virou amigo de Graciliano, querendo aparecer em seus livros (“Eu queria que saísse o meu retrato”) e, além de personagem em Memórias do Cárcere, é citado também no conto “Um Ladrão”, de Insônia, história da ineficiência de um aprendiz seu num roubo que fizeram juntos. Esta foi uma das muitas histórias que Gaúcho contou a Graciliano, ouvinte atento. E assim a amizade entre eles cresceu, dentro dos muros, desinteressada e sincera.
GRANDES NOMES DA LITERATURA


GRACILIANO RAMOS
(www.releituras.com/graciramos)

Graciliano Ramos nasceu no dia 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrângulo, sertão de Alagoas, filho primogênito dos dezesseis que teriam seus pais, Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos. Viveu sua infância nas cidades de Viçosa, Palmeira dos Índios (AL) e Buíque (PE), sob o regime das secas e das surras que lhe eram aplicadas por seu pai, o que o fez alimentar, desde cedo, a idéia de que todas as relações humanas são regidas pela violência. Em seu livro autobiográfico "Infância", assim se referia a seus pais: "Um homem sério, de testa larga, dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda; uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza, olhos maus que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura".
Em 1894, a família muda-se para Buíque (PE), onde o escritor tem contacto com as primeiras letras. Em 1904, retornam ao Estado de Alagoas, indo morara em Viçosa. Lá, Graciliano cria um jornalzinho dedicado às crianças, o "Dilúculo". Posteriormente, redige o jornal "Echo Viçosense", que tinha entre seus redatores seu mentor intelectual, Mário Venâncio.
Em 1905 vai para Maceió, onde freqüenta, por pouco tempo, o Colégio Quinze de Março, dirigido pelo professor Agnelo Marques Barbosa.
Em 1938, publica seu famoso romance "Vidas secas". No ano seguinte é nomeado Inspetor Federal do Ensino Secundário no Rio de Janeiro. Em 1942, recebe o prêmio "Felipe de Oliveira" pelo conjunto de sua obra, por ocasião do jantar comemorativo aos seus 50 anos.
O romance "Brandão entre o mar e o amor", escrito em parceria com Jorge Amado, José Lins do Rego, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz é publicado pela Livraria Martins, S. Paulo.
Em 1946, publica "Histórias incompletas", que reúne os contos de "Dois dedos", o conto inédito "Luciana", três capítulos de "Vidas secas" e quatro capítulos de "Infância". Os contos de "Insônia" são publicados em 1947.O livro "Infância" é publicado no Uruguai, em 1948.
Em janeiro de 1953 é internado na Casa de Saúde e Maternidade S. Vitor, onde vem a falecer, vitimado pelo câncer, no dia 20 de março, às 5:35 horas de uma sexta-feira. É publicado o livro "Memórias do cárcere", que Graciliano não chegou a concluir, tendo ficado sem o capítulo final.
Postumamente, são publicados os seguintes livros: "Viagem", 1954, "Linhas tortas", "Viventes das Alagoas" e "Alexandre e outros heróis", em 1962, e "Cartas", 1980, uma reunião de sua correspondência.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

UM DEDO DE PROSA


"PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE"

2009 chegou!... e com ele as sequelas deixadas pelos homens no decorrer do tempo em troca de nada.
O Ano Novo mal teve início e já estamos assistindo nos noticiários aos bombardeios entre Israel e Gaza; às milícias agindo nos morros; ao tráfico de drogas fazendo mais vítimas inocentes; à polícia comentendo os mesmos erros de outrora; à natureza enfurecida com a ação dos homens...
O Ano pode ser Novo, mas o filme a que assistimos é reprisado. Com uma diferença apenas: as personagens, às vezes, são outras. Mas sou otimista e acredito que ainda há esperança!...
Tenho certeza que os filhos dos meus netos conseguirão festejar a chegada de um Novo Ano sem ouvirem falar em catástrofes naturais e sem conflitos políticos, religiosos, diplomáticos, étnicos e/ou sociais, ou seja, em harmonia.
Enquanto essa HARMONIA não chega, enquanto a PAZ não reina, ofereço-lhes algumas poesias e tomo como minhas as palavras da poetisa Lília Diniz:
"quem sabe me encontro nalgum lugar aonde o amor restaura as chagas e segue restituindo a morte e o sempre cada vez que respirar, cada vez que o mundo acordar cantando, cada vez minha velha alma criar alma nova e queira voar pela boca e sair por aí".
MEUS VERSOS LÍRICOS



A HERANÇA
(Joésio Menezes)


Sonhei que eu recebia uma herança,
A qual foi noticiada nos jornais...
Era uma tela que os meus queridos pais
Herdaram quando ainda eu era criança.


Quando vi, eu quase não acreditei!..
Era um quadro muito raro e valioso
Pintado por um artista grandioso:
Picasso, das pinturas o grande rei.

Mas, esse sonho infelizmente teve um fim
Quando, sorrateira, você chegou a mim
E me disse: “- dessa vez eu te laço”...

Acordei angustiado, pois não sabia
Se realmente a mim você queria
Ou se estava de olho em meu Picasso.


ESTRELA-GUIA
(Joésio Menezes)

Você é o néctar da minha flor,
Do meu céu é a Estrela-Guia,
Da minha canção, a melodia,
Do meu arco-íris, a mais linda cor.

Você é a força do meu amor,
Da minha vida é a energia,
É o sol que aquece o meu dia,
É o meu ciúme devastador.

Você é a canção que canto agora,
É o raio mestre da luz da aurora
Da minha vida reticente...

Você é a luz que sempre brilha
No decorrer da longa trilha
Do meu destino contundente.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL


MULHER II
(Vivaldo Bernardes)


Tu és pura e nobre, origem do homem;
da Terra és rainha, do lar segurança;
aos entes do mundo não tens semelhança;
carinhos tens muitos que não se consomem.


És luz que se acende no escuro das noites;
farol que indica o roteiro a seguir;
bonança que trazes no rosto a sorrir
depois da borrasca, no fim dos açoites.

És fonte segura d´amor desvelado;
cansaço não queixas ou dores quaisquer,
só tendo por mira o amor acendrado.

O amor genuíno que trazes no peito
é próprio de ti, pois te chamas mulher,
por mais dores sintas não mudas teu jeito.


AQUELA TRISTE E LEDA MADRUGADA...
(Luis de Camões)

Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrado.

Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu a postar-se de uma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas.
Se acrescentaram em grande e largo rio.

Ela viu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio,
E dar descanso às almas condenadas.
CRÔNICA DA SEMANA


TRANSFORMAR LÁGRIMAS EM CANÇÃO
(Lília Diniz)

Coração do homem-bomba faz tum-tum/ Até o dia em que ele fizer bum...”

Enquanto milhões celebravam a chegada do ano novo, perante as luzes dos fogos de artifício, o povo palestino contava “seus mortos” massacrados por Israel.
Por alguns instantes fiquei também encantada pensando na beleza das formas iluminadas, ali às margens do Rio Tocantins, na expectativa pelo show tão esperado de Zeca Baleiro, entretanto, o barulho da explosão dos fogos me levou novamente à Faixa de Gaza.
E se a profecia do poeta nos diz que é mais fácil cultuar os mortos que os vivos, que é mais fácil viver de sombras que de sóis, ou ainda que é mais fácil mimeografar o passado que imprimir o futuro, confesso que não foi fácil me concentrar e renovar minhas esperanças na humanidade.
Eu canto, danço, celebro a vida sem convencer nem a mim mesma... E quando menos espero, ele dispara: Se não eu? Quem vai fazer você feliz? GUERRA. E novamente vou eu à Faixa de Gaza. Penso nas mulheres e homens que sofrem pela estupidez de quem justifica o genocídio, como a moça que justifica, de modo simples, a cerveja derramada em minha blusa durante a canção “alma não tem cor”.
Quase nada me concentra por muito tempo. Tenho a memória de tudo que existe. Tudo que é triste.... Eu que vagueio entre as luzes do ano novo e o estrondo das bombas de Israel desconheço meus amigos e me pergunto: Eu já vi esse rosto antes? Nas sombras de outras luzes, eu já vi esse rosto antes? Esses olhos já me olharam?
Olho meu filho que contempla o palco sem mover sequer um passo, daqui pra lá, nem de lá pra cá. E lá vou eu, novamente à Gaza, pensar nas mulheres que olham seus filhos inertes, paralisados por bombas, estilhaçados por balas. Mortos!
Deixo-me levar pelos versos que teimosos me queimam a alma: mesmo na luz não há quem possa se esconder do escuro. Eu estou ali desnuda!
Nada basta à minha alma que reclama sem paz por um grito da humanidade. Humanidade que desfia discursos de esperança, desejando paz ao vizinho, defendendo a Amazônia, salvando espécimes em extinção, se preplexa perante as explosões artificiais e não explode seus reclames pelos corpos que são estilhaçados por bombas, pela Aids, pela fome...no Iraque, no Brasil, em Moçambique, na China...
Beijo meu amado, e de olhos fechados, vejo os beijos que não mais serão dados entre os amantes enamorados, apartados cruelmente.
Ouço as juras segradadas nalgum lugar em que eu nunca estive, sob chuvas de lágirmas e medos, sussurradas... -Eu sei que você tem medo de não dar certo. Eu quero que você não pense em nada triste, pois quando o amor existe não existe tempo pra sofrer...
E mesmo desabando minhas dores, quero lançar nas estrelas canções e poemas que reinventem a alegria, a esperança, o amor e a solidariedade, ainda que hoje eu só queira chorar como poeta do passado.
E quem sabe me encontro nalgum lugar aonde o amor restaura as chagas e segue restituindo a morte e o sempre cada vez que respirar, cada vez que o mundo acordar cantando, cada vez minha velha alma criar alma nova e queira voar pela boca e sair por aí.
RESENHA LITERÁRIA


RITA, RITINHA, RITONA
(Por Wilson Prata)

Até esse livro era completamente leigo em Dalton Trevisan. Fica difícil fazer uma crítica do autor por apenas uma obra, não da para saber se evoluiu, se experimentou novos rumos ou se se encontra num estado de autofagia literária. Mesmo que passasse a consumir e pesquisar sua obra, o que esta um pouco longe de ser minha prioridade, dificilmente faria uma resenha melhor que esta.
Livrando minha culpa na minha ignorância sobre Trevisan, conjunta com a preguiça mental, posso dizer o que realmente achei do livro, e achei bom.
O que me incomodou um pouco na leitura é o fato que de eu nunca nem ter estado em Curitiba. O autor não chega a ser um bairrista, mas sem dúvida há uma percepção parcial do livro para quem não conheça Curitiba, visto as várias referências que o autor faz à cidade e as pessoas que lá residem.
O mais valoroso no livro é a abordagem tupiniquim da sexualidade, explicito e cru. Trevisan escreve sobre pedofilia, fetichismo, homossexualismo com uma narrativa simples e direta sustentada por eventos plausíveis.
O poema sobre prostituição é quase um tratado sobre direitos e deveres de quem consome e quem fornece na comercialização do sexo, por uma questão de bom senso e pelo bem da poética na literatura esse não é título.
Existem dois ou três contos que são contos eróticos, de sacanagem mesmo, escritos de uma forma erudita, semi-parnasiana e, consequentemente, cômica.
No caso da pedofilia faz uma abordagem nem pró nem contra o polêmico tema, o caso acontece como acontece realmente, uma menina de nove anos sai de casa para fazer compras um cara mais velho a abordar com aquele papo “vem cá ver o que tenho para você” que só uma criança de nove anos cairia, e é o que acontece. O cara abusa da menina, que não faz nem idéia do que ta acontecendo, e depois vai embora sem peso na consciência. Cruel, estúpido e desumano com só a realidade consegue ser.
GRANDES NOMES DA LITERATURA


DALTON TREVISAN
(www.releituras.com)

Dalton Jérson Trevisan nasceu a 14 de junho de 1925, em Curitiba-PR. Antes de chegar ao grande público, quando ainda era estudante de Direito, costumava lançar seus contos em modestíssimos folhetos. Em 1945 estreou com um livro de qualidade incomum, Sonata ao Luar, e, no ano seguinte, publicou Sete Anos de Pastor.
Entre 1946 e 1948, editou a revista Joaquim, "uma homenagem a todos os Joaquins do Brasil". A publicação tornou-se porta-voz de uma geração de escritores, críticos e poetas nacionais.
Dedicando-se exclusivamente ao conto (só teve um romance publicado: "A Polaquinha"), Dalton Trevisan acabou se tornando o maior mestre brasileiro no gênero. Em 1996, recebeu o Prêmio Ministério da Cultura de Literatura pelo conjunto de sua obra. Em 2003, divide com Bernardo Carvalho o maior prêmio literário do país — o 1º Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira — com o livro "Pico na Veia".