segunda-feira, 6 de outubro de 2014

CRÔNICA DA SEMANA

NÃO ERA APENAS UMA FOLHA DE PAPEL JOGADA AO VENTO
(Aline Menezes)

Considero desafiador dar aula de literatura, ainda mais porque sei o quanto as pessoas são equivocadas sobre esse tipo de manifestação artística. Muitos acham que ser professora de literatura é ficar recitando poesia em sala de aula. Ou é falar de amenidades para tornar a vida mais feliz (talvez isso seja sarau ou autoajuda, mas nunca literatura). I'm sorry!
Confesso que um pouco desmotivada, buscando estratégias de envolvimento dos meus alunos no que acredito e entendo ser literatura, propus algo em sala, que levou menos de cinco minutos para ser realizado. Ao perceber que eles não haviam compreendido conceitos importantes para os nossos estudos literários, pedi para que todos observassem o que eu iria fazer em seguida. Então disseram: – VIMOS que a senhora lançou uma folha de papel no chão. Logo depois, pedi para que fechassem os olhos e fiz o mesmo movimento, e perguntei o que eles haviam notado. Eles disseram que me OUVIRAM jogar o papel no chão. Por fim, eu pedi para que tapassem os ouvidos, fechassem os olhos e prestassem atenção no que eu iria fazer. Os alunos que estavam mais próximos de mim disseram que SENTIRAM que eu havia arremessado a folha de papel em algum lugar... Isso, sim, faz-me pensar em literatura.
São muitos estágios que precisamos avançar para compreendermos, por meio da arte literária, a vida e a nós mesmos.
Eu até posso ensinar os alunos a ouvir e a ver determinadas coisas nas obras literárias, mas não posso ensiná-los a sentir a vida com mais profundidade, a menos que eles mesmos se disponham a descobrir e a perceber, ainda que não vejam... a descobrir e a perceber, ainda que não ouçam...

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