quinta-feira, 26 de julho de 2012


UM DEDO DE PROSA

DIA DO ESCRITOR

Ontem, dia 25 de julho, comemorou-se o DIA DO ESCRITOR, o criador de sonhos e fantasias.
“Um escritor é todo aquele que dedica parte do seu tempo às letras, seja profissionalmente ou não.
Escrever é uma liberação da mente, pois escrevendo, damos asas aos nossos pensamentos e à nossa criatividade, sem encontrarmos limites no tempo nem no espaço. Um escritor não precisa ter a missão de salvar o mundo, mas deve carregar a responsabilidade de ser honesto consigo mesmo e com os outros, pois um dia seus escritos podem ser lidos por alguém, formando opiniões.
Quando lemos, nossa imaginação nos leva ao mundo da fantasia e dos sonhos, onde podemos ser o que quisermos”.
A esses heróis, muitas vezes marginalizados, o PORTAL DA POESIA dedica todos os textos aqui publicados.
PARABÉNS A TODOS OS ESCRITORES, FAMOSOS OU ANÔNIMOS!...


MEUS VERSOS LÍRICOS

SONETO AO NOSSO FOGO
(Joésio Menezes)

- ao amor da minha vida -

O calor dos nossos corpos
Unidos, entrelaçados,
Mostra que não estamos mortos
E nem de fogo apagado.

Há neles uma chama ardente
Que instiga a nossa libido,
Fazendo o fogo da gente
Parecer enfurecido.

E quando unidos eles estão,
Nossos corpos, ardendo em tesão,
Exalam um suave perfume

Extraído do mais puro amor
Cujos desejos do despudor
Este soneto aqui resume.


PAIXÃO
(Joésio Menezes)

Para quê dizer adeus
Se o brilho dos olhos teus
Diz justamente o contrário?...
Está claro e evidente
Que o coração da gente
É da paixão o itinerário.

Para quê se esconder, então,
Dos olhares que a paixão
Nos lança insistentemente,
Se é quase inevitável
Ter o coração vulnerável
A uma paixão contundente?

Para quê sempre dizer não
Aos apelos do coração,
Que batuca dizendo SIM?
E para quê, filha de Deus,
Resistir aos desejos teus,
Da tal paixão o estopim?...

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

LUSTFUL

Intumesce na alma
esta ambição lasciva,
saliva

Putas adornadas
sec(e)reções impuras
secura

lúbrico desejo impúbere


QUIS
(Andréa Joy)

Eu quis amor eterno
Eu quis beijos prolongados
Eu quis abraços apertados
Eu quis palavras sinceras
Eu quis um corpo colado

Tudo isso, um dia tive
E na memória sobrevive
Dos beijos, eu me lembro!
As palavras? Se perderam no tempo.
O corpo? Largado pelo caminho
Os abraços? De outros braços!
Mas o AMOR? Não. Não morre!
Rejuvenesce


CRÔNICA DA SEMANA

A CIGANA
(Moisés Bottas)

Qual o gosto do beijo de uma cigana apaixonada, que transpira sensualidade pelos seus poros rosados que suam ao ouvir as castanholas e o violão flamenco de um homem de brinco e cabelos negros?
O homem tem o olhar do Don Juan, e com esse olhar tenta seduzir a ciganinha que baila com seu vestido longo e de cores variadas. A mulher eleva seus olhos ao encontro aos do cigano e puxa seus lábios como se fosse lançá-lo um beijo. Mas ela se mantém em sua dança e seus impulsos sensuais.
A cigana se deleita ao ouvir os arpejos perfeitos do violonista, que toca com a alma de sedução do Orfeu tocando para sua amada Eurídice. Por fim, a cigana se aproxima com suas castanholas e sussurra ao ouvido do violonista encantado. O sussurro não pôde ser ouvido, mas a ação seguinte veio acompanhada de um beijo caloroso e um fechar de olhos que parecia ser um sonho interminável... O beijo chegou ao fim e a cigana partiu.
Ao músico, restou-lhe mais acordes a dedilhar em seu violão e nada mais naquela noite, que pareceu eterna do começo ao fim daquele beijo.

quinta-feira, 19 de julho de 2012


UM DEDO DE PROSA

PENSAMENTO CRÍTICO
 
Desde que o mundo é mundo, “as pessoas criticam porque criticar é bem mais fácil do que tentar fazer melhor”. E é assim, criticando uns e outros, uma coisa aqui outra ali, que surgem os chamados CRÍTICOS, os quais, independentemente do seu senso crítico (que é capacidade que um indivíduo tem de criar sua própria opinião), se criam na desgraça ou no sucesso de outrem.
Por sua vez, algumas “vítimas” dessas críticas são levadas ao ápice do sucesso, porém a maioria se deixa levar pelas palavras agourentas dos críticos e se entrega à depressão, muitas vezes deixando do lado o grande talento que carrega nas mãos.
É importante ressaltar que a crítica nada mais é que uma função de comentário sobre determinado tema, cujo objetivo principal é fazer com que o artista busque melhorar o seu estilo, e não entregar-se ao ostracismo. E um dos primeiros tipos de crítica a surgir na imprensa foi a crítica literária, dedicada a analisar livros, romances, poemas e outras obras de Literatura.
Em geral, o crítico não pode (ou não deveria) apresentar uma avaliação puramente subjetiva, mas também deve apresentar descrição de aspectos objetivos que deem sustentação aos seus argumentos, o que contribui – e muito – na qualidade dos trabalhos apresentados pelos inúmeros envolvidos na Arte, na Literatura e/ou na Política.
Assim sendo, deixemos os críticos “perderem” seu tempo criticando-nos, pois – quem sabe? – suas críticas nos fortalecerão.


MEUS VERSOS LÍRICOS

SEM INSPIRAÇÃO
(Joésio Menezes)

Hoje, me falta inspiração
Para escrever versos a ti;
Versos que me vêm do coração
E ficam vagando por aí.

Alguns deles - alheios à paixão -
Apareceram, mas eu os perdi...
Soltos por aí sei que eles estão,
E horas dessas chegarão a ti.

Por isso, tu não te apoquentes
Se eles não se fizerem presentes
Ou não conseguirem te encontrar,

Pois outros versos eu te escreverei
E aos ventos eu os declamarei
Até o teu coração me escutar.


SEM VIDA
(Joésio Menezes)

Tenho à minha disposição
O Sol, que todos os dias
Me sorri com alegria
E me traz luz à visão.

Tenho de Deus a compaixão
E da vida, a regalia
De escrever minhas poesias,
Que me confortam o coração...

E basta-me somente querer
Que na vida eu posso ter
Tudo que Deus nos oferece.

Mas se nela eu não tiver
O Amor da minha Mulher
É como se vida eu não tivesse

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

CHUVA
(Karina Ferreira)

Na chuva encontro energia,
Para do chão me erguer,
E procurar a razão e sabedoria,
Para novamente voltar a viver.

A chuva que lava minha alma,
E enrijece o meu semblante,
É ela que me deixa calma,
É ela que me faz constante.

A chuva não traz,
De volta, as águas passadas,
E sim ela faz,
Esquecer as idéias erradas.

A chuva transmite,
A força do tempo,
E nesse mundo não existe,
Hora melhor que esse momento.

É na chuva que ouço a voz,
Da minha sabedoria interior,
Que realça a minha vontade feroz,
De mostrar o meu valor.


DESEJOS
(Carlos Deummond de Andrade)

Desejo a vocês...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho.
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

CRÔNICA DA SEMANA


LOUCOS E SANTOS
(Oscar Wilde)

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice!... Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou, pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

quinta-feira, 12 de julho de 2012


UM DEDO DE PROSA

BODE EXPIATÓRIO...

Cassaram Demóstenes Torres porque precisavam de um ”bode expiatório” para burlar a opinião pública, geralmente representada pela Mídia.
Há muito é sabido que naquele antro intitulado Senado Federal a corrupção corre solta e todos se fazem passar por honestos a fim de enganar não sei a quem, talvez a eles mesmos!... Também é sabido que lá – desde a idade da pedra lascada - imperam manobras eleitoreiras e falcatruas financeiras sob os olhares da impunidade.
Até mesmo os mais desavisados já perceberam que, na Política Brasileira, são muitos e grandes os peixes que mergulharam de cabeça nas águas do tal Cachoeira, e que atolados estão até o pescoço. Daí, a necessidade de se encontrar, o mais rápido possível, um bode expiatório, cujas “costas largas” já foram previamente preparadas para as chibatadas da Comissão de Ética (sem ética) e da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que nada fazem além de “limpar a barra” dos seus aliados e jogar para debaixo do tapete os resíduos fecais deixados pelos ocupantes daquela casa durante as Sessões Ordinárias (e põe ordinárias nisso!).

MEUS VERSOS LÍRICOS





ÚLTIMOS VERSOS
(Joésio Menezes)







Serão estes os últimos versos meus
Oferecidos aos lindos olhos teus?
Não sei!... Isso não posso afirmar,
Pois toda vez que os fito, me encanto
E quando encantado fico, me espanto
Com o doce feitiço do teu olhar.

E toda vez que penso em me dizer
Que não mais sinto vontade de escrever
Versos quaisquer aos olhos teus,
Uma força estranha se apossa de mim
E me diz que não posso pensar assim,
Pois são os teus olhos obras de Deus.

Mas posso afirmar, com certeza,
Que o doce feitiço e a beleza
Que têm esses lindos olhos teus
Muito me ajudaram a perceber
Que antes dos que ainda irei fazer,
Serão estes os últimos versos meus.


CONSUMADO
(Joésio Menezes)

Nossos corpos entrelaçados
E suavemente encharcados
Pelo calor do nosso cio
Se entregaram à delirante
Insanidade dos amantes
Numa noite de desvario.

E sob as chamas da paixão
Senti o fogo do tesão
Abrasar meu corpo inteiro.
Nessa hora o despudor
Anunciava, com furor,
O nosso gozo prazenteiro.

E no auge da erupção,
Bateu forte meu coração
Naquela noite de delícias...
Depois do fato consumado,
Ficamos ali – abraçados -
Trocando beijos e carícias.

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA


REMORSO
(Olavo Bilac)

Às vezes, uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,

Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!


LEMBRAS?
(Andréa Joy)

Fomos dois apaixonados...
Teu jeito tímido e o meu “calado”,
E na calada da noite te beijei,
Lembras?

Nosso olhares confessando
O quanto nos queríamos
E como nos admirávamos,
Lembras?

As poesias desmedidas,
O lirismo em nossas vidas,
Minha alegria descarada
Quando eu queria só tu, e mais nada,
Lembras?

Quando nossos corpos se pertenceram,
Nossas bocas murmuraram,
Minha vaidade se aguçou
E a gente se amou,
Lembras?

Eu me lembro
Quando tudo “acabou”:
Olhos fixos no nada,
Minha boca amordaçada,
O peito cheio de dor!...

Hoje...
Ressurgi das cinzas
E qual fênix quero voar.
As lembranças são minhas asas;
O seu corpo, o meu lugar.

CRÔNICA DA SEMANA

UM DRIBLE NA TRISTEZA
(Leca Castro)

Quando a tristeza impera, o melhor remédio é lotar-se de atividades.
Não importa se você trabalha, estuda ou é uma pessoa à toa na vida. Ficou triste? Arrume algo para fazer e, se não tem tempo, faça o de sempre mesmo, mas de forma diferente.
Altere seu foco todo para algo diferente. Faça de tudo para não pensar na causa da tristeza e deixe o dia ir passando. Ao findar o dia, verá que não foi tão difícil assim viver. E no final do segundo dia sentirá que a dor não dói tanto quanto no início do dia anterior. E assim a gente vai fazendo: driblando um dia, enrolando a tristeza, até que ela se canse de nós e vá embora. Claro que ela deixará um rastro para que lembremos que passou por ali, mas você saberá que quem manteve o domínio foi você.
Não somos pessoas tristes. Somos pessoas que ganham alegrias e tristezas pelo caminho. Somos pessoas que possuem ferramentas em mãos para se tornarem otimistas ou não. Somos pessoas que têm opção sempre. Somos pessoas que escorregam, que caem e que erram. Mas também somos pessoas que levantam e tentam acertar. Somos seres que tentam se humanizar.

quinta-feira, 5 de julho de 2012


UM DEDO DE PROSA

E A SAÚDE?... VAI BEM, OBRIGADO!

Toda vez que assisto a um noticiário sobre o caos na SAÚDE PUBLICA, fico indignado com os nossos governantes e comigo mesmo, pois nada posso fazer para mudar essa realidade.
Não é fácil saber que, em nosso país, uma COPA DO MUNDO vale muito mais que as vidas dos milhões de brasileiros que agonizam, diariamente, nas filas dos hospitais públicos.
Enquanto algumas dezenas de bilhões de reais são despejadas nas mãos das empreiteiras responsáveis pelas reformas e/ou construções dos estádios de futebol, a Saúde brasileira recebe - a conta-gota -, alguns míseros trocados que mal dão para atender às necessidades básicas dos enfermos.
Ao final da Copa, o que será feito desses estádios  cujos gastos faraônicos dariam para equipar inúmeros hospitais da rede pública de saúde?... Talvez não mais terão serventia alguma e ficarão à mercê das varejeiras e das “almas penadas”, algumas das quais desencarnadas na fila de espera de um leitos nos hospitais públicos.

MEUS VERSOS LÍRICOS

CONVICÇÂO
(Joésio Menezes)

- À grande mulher que me atura há quase 30 anos -

Quando eu digo que te amo
E que ao meu lado te quero,
Crê nesse amor que proclamo
E que aos ventos vocifero!

Crê no que te digo - eu clamo! -
E vê o quanto te venero!...
Crê nos versos em que declamo
Esse meu amor tão sincero.

E não duvides - por favor! -
Desse verdadeiro amor
Que habita meu coração!...

Para sempre quero viver
Juntinho a ti – podes crer! -,
Pois te amo com convicção!


ENSAIO SOBRE A BELEZA
(Joésio Menezes)

Afinal,
A beleza é consequência dos fatos
ou qualidade das fotos;
é substantivo abstrato
ou atributo remoto;
é adorno dos relatos
ou detalhes que não noto?...

Não sei!...
Apenas sei que a beleza da gente
está nos olhos de quem a vê
e no coração de quem a sente;
nos comerciais de TV
e num sorriso inocente
indagando os porquês.

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

ANJO
(Castro Alves)

"AI! QUE VALE a vingança, pobre amigo,
Se na vingança a honra não se lava?...
O sangue é rubro, a virgindade é branca —
O sangue aumenta da vergonha a bava.

"Se nós fomos somente desgraçados,
Para que miseráveis nos fazermos?
Deportados da terra assim perdemos
De além da campa as regiões sem termos...

"Ai! não manches no crime a tua vida,
Meu irmão, meu amigo, meu esposo!...
Seria negro o amor de uma perdida
Nos braços a sorrir de um criminoso!..."


A TODOS OS POETAS
(Alphonsus de Guimaraens Filho)

A todos vós que um dia pressentistes
os passos alumbrados da poesia
na vossa alma soar — saudoso dia
que mais humanos, graves, e mais tristes

para sempre vos fez... A todos vós
que, amando, o amor sentistes impossível,
que, vendo o mundo, amastes o invisível,
e, ouvindo o canto, ouvistes nele a voz

de um reino imerso em névoa como clara
ilha na solidão... E deslumbrados
as palavras no vácuo erguestes para

reanimá-las e reacendê-las,
a todos vós o céu acolhe, consolados
pela luz da mais casta entre as estrelas.


CRÔNICA DA SEMANA

PENSAR NÃO ENTORPECE A VIDA

Por Aline Menezes*

A ausência de reflexão no homem é a atrofia dos lugares-comuns. Sempre explico para os meus alunos que, num texto dissertativo, por exemplo, precisamos evitar os clichês, aquelas expressões que, de tão utilizadas, servem para tudo, servem para argumentar ou tentar argumentar sobre qualquer coisa. Sempre explico para os meus alunos que, num texto dissertativo, devemos ser objetivos, precisos na linguagem. Explico que devemos escolher a ordem direta das orações, assim como devemos nos manter claros, coesos, coerentes. Explico também que, num texto dissertativo, devemos defender uma ideia ou um ponto de vista... enfim, todas aquelas lições que os nossos professores de redação nos ensinaram (ou, pelo menos, deveriam...). Além disso, procuro fazê-los ter curiosidade pelo estudo da gramática, não da maneira equivocada e entediante que muitos professores de português já fizeram... porque, para mim, mais importante do que qualquer regra gramatical é incentivar os alunos ao pensamento autônomo e independente.
Pensar não é abstração apenas. Pensar pressupõe absorver o que há de mais duro e difícil na vida, e isso às vezes é algo físico, orgânico, psíquico. Pensar é também sentir, observar os movimentos, tentar compreendê-los. É importar-se com o outro e consigo mesmo. É a tentativa de não caminhar anestesiado, embriagado pelo que há de mais torpe, vil e desumano que existe por aqui. É a coragem de enfrentar a paralisia, a preguiça, o comodismo. Pensar é querer ver. Enxergar a vida, o homem, o país, o mundo... Pensar é reconhecer as nossas ambiguidades, não apenas as linguísticas, e as nossas contradições e incoerências. Pensar é manter-se lúcido, mesmo quando tudo parece nos enlouquecer a cada instante; mesmo quando necessitamos de ilusões para sobrevivermos; mesmo quando descobrirmos que a vida é também angústia e desespero. E que a felicidade jamais deveria ser um imperativo.
Pensar é doer-se sozinho, solitariamente. É, às vezes, não ter ninguém para pensar junto, para sofrer acompanhado. Pensar é gostar da solidão e nem por isso parecermos masoquistas. Felizmente, pensar é também compartilhar com alguém aqueles insights fora de hora, fora de tempo. É tornar-se inadequado numa sociedade de reproduções fajutas e imbecis, de pensamentos estúpidos e sem nenhum tipo de consistência. Por isso mesmo, pensar exige que nos sintamos estranhos, inadaptáveis, anormais...
Pensar é acreditar na possibilidade de ressignificar as palavras, os verbos, as expressões, as ideias. É arriscar-se a parecer tolo (apaixonar-se também é tudo isso). É correr o risco de se revelar incauto, imprudente... Mas, ainda assim, pensar é melhor que ser entorpecido. É escrever um texto como este e ter a certeza de que me falta pensar um pouco mais e refletir sobre o que estou escrevendo, mas pensar é gerúndio, não infinitivo, portanto, qualquer falha é parte do processo, é necessário. Pensar é tentar se conhecer, é buscar nutrientes para uma alma ferida, cansada, subnutrida, despedaçada. Porque pensar é uma necessidade contra a brutalidade do não pensar, da não reflexão, da ausência de clareza, da falta de solidez do mundo. 
Pensar é dar sentido à vida, antes que nos tornemos sem sentido algum. É experimentar as impossibilidades, as transgressões. É lutar contra a maioria, apesar de tudo. É insistir sempre contra a estupidez. É, ainda, entender a relevância e a necessidade da própria linguagem como instrumento de liberdade, ainda que esta seja tão controversa, tão incomum...

*Aline Menezes é jornalista e professora de Leitura e Produção de Texto.