quarta-feira, 28 de abril de 2010

UM DEDO DE PROSA

JUSTIÇA PARA TODOS?

Enquanto a justiça discute se dá ou não aos casais de homossexuais o direito à adoção de filhos, alguns “monstros” se valem da prerrogativa de serem “togados” e furam a fila de espera dos candidatos que almejam a oportunidade de serem pais (ou mães) por meio da adoção.
Pouco importa se o casal é constituído de HOMEM/MULHER, HOMEM/HOMEM ou MULHER/MULHER. O que deve ser questionado é se os candidatos a adoção têm condições financeiras e psicológicas para manter e educar um filho, pois o que está em jogo é o bem-estar e a integridade física e moral da criança, e não a satisfação pessoal de quem a adota.
Recentemente a imprensa divulgou que, no Rio de Janeiro, uma procuradora de justiça aposentada torturara sua filha adotiva de apenas dois anos. Segundo foi noticiado, com frequência a criança era agredida física e verbalmente pela “mãe” que a adotara. E isso ela fazia primeiramente por – quem sabe? - ser uma “desequilibrada mental mal-amada”, e depois por saber que o seu STATUS social (Procuradora de Justiça) lhe dá foro privilegiado, o que impede os “simples mortais” de levarem-na a júri. Ainda segundo a imprensa, o delegado responsável pelo caso disse que a procuradora “poderá” responder pelo crime de tortura. Fosse um de nós, certamente RESPONDERÍAMOS por esse crime e SERÍAMOS condenados já em primeira instância.
É assim que caminha a humanidade: nós, “simples mortais”, a mercê dos mandos e desmandos dos “deuses togados” cujos filhotes (advogados), amparados pelas brechas encontradas nas Leis (brechas estas deixadas, de propósito, por quem cria as Leis) os defendem com “unhas e dentes”, buscando, talvez, um lugarzinho no “altar” dos deuses magistrados.
Que se faça justiça, mas não somente aos que usam camiseta, calça jeans e chinelo de dedo!...
MEUS VERSOS LÍRICOS


PÉROLA NEGRA
(Joésio Menezes)

Tu és Pérola Negra... joia rara
Lapidada pelas mãos do Criador.
A ti, nenhuma outra se equipara,
Pois és de inestimável valor.

E o Joalheiro que nos ampara
Teve muito esmero e amor
Ao lapidar-te e, de forma clara,
Quis Ele ser o teu curador.

Porém, foi Ele mui generoso
Ao nos permitir tão prazeroso
Privilégio de ter-te ao nosso lado...

E aqui, em nossa joalheria
Chamada Vida, a tua alegria
Foi o nosso maior legado.


DESEJOS PROIBIDOS
(Joésio Menezes, num Sarau Poético)

Era noite... crescente, a Lua sorria;
Versejavam os poetas apaixonados.
Em êxtase, a plateia os ouvia;
Ouvidos atentos, olhar encantado.

A cada verso de cada poesia,
Suspiros ecoavam por todo lado.
Mas eu suspirava em demasia
Por um vestido, no mínimo, ousado...

É difícil esquecer aquela cena:
O corpo escultural de uma morena
Emoldurado num pequeno vestido.

E por mais qu’eu lute, por mais qu’eu tente,
Não consigo evitar que a minha mente
Tenha desejos a mim proibidos
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA


VEÍCE
(Carlos Alberto Teixeira)

Vô contá como é triste
vê a veíce chegá,
Vê os cabêlo caíno,
vê as vista encurta,
vê as perna trumbicano,
com priguiça de andá.
Vê "aquilo" esmoreceno
sem força prá levantá.

As carne vai sumino,
vai parecêno as veia;
as vista diminuíno
e cresceno a sombrancêia.
As oiça vão encurtano,
vão aumentano as orêia,
os ôvo dipindurano
e diminuíno a pêia.

A veíce é uma doença
que dá em todo cristão:
dói os braço, dói as perna,
dói os dedo, dói a mão;
dói o figo e a barriga,
dói o rim, dói o pulmão;
dói o fim do espinhaço,
dói a corda do cunhão.

Quando a gente fica veio
tudo no mundo acontece:
vai passano pelas rua
e as menina se oferece.
A gente óia tudo,
benza Deus e agradece,
Correno ligeiro prá casa
ou procurano o INSS.

No tempo que eu era moço,
o sol prá mim briava,
eu tinha mil namorada,
tudo de bão me sobrava.
As menina mais bonita
da cidade eu bolinava.
Eu fazia todo dia,
chega o bichim desbotava.

Mas tudo isso passô,
faz tempo ficô prá tráis.
As coisa que eu fazia
hoje num sô capaiz.
O tempo me robô tudo
de uma maneira sagaiz.
Prá falá mesmo a verdade,
nem trepá eu trepo mais.

Quando chega os setenta
tudo no mundo embaraça.
Pega a muié, vai pra cama,
aparpa, beija e abraça,
porém só faz duas coisa:
solta peido e acha graça.
CRÔNICA DA SEMANA

O PARADOXO DA PAIXÃO
(Karinne Santana)

Às vezes nos aproximamos de pessoas que nos fazem bem, mas algo dentro de nós acontece, deixando-nos totalmente vulneráveis e desprotegidos diante de tanta pressão amorosa, que apesar de picante não de deixa de ser também sentimental, pois o corpo sente, mas o coração não separa. Então, nós padecemos de um pesar que não sabemos de onde vem e nem porque se instala, pois era para ser bom, mas efêmero.
Porém, o que não entendemos é que o nosso corpo é um só, ou seja, coração, razão e membros estão ligados e que quando os submetemos a emoções fortes, mesmo que momentâneas, o corpo todo sente e amplifica toda essa tensão, fazendo-nos acreditar que se trata de um sentimento maior e quando não correspondidos, ficamos mal, entristecidos.
É aí que percebemos que os sentimentos e emoções nos outros nem sempre são intensos como em nós, então descobrimos que a vida é uma emocionante caixinha de surpresa.

terça-feira, 20 de abril de 2010

UM DEDO DE PROSA - ESPECIAL BRASÍLIA 50 ANOS

PALAVRAS DE UM BRASILIENSE ADOTIVO

Os últimos acontecimentos políticos ocorridos na “Capital da Esperança” serviram apenas para macular um pouco mais a imagem de Brasília. Mas quem a conhece, sabe que a nossa cidade foi, é e sempre será o centro das atenções, por isso, desde a sua inauguração (há 50 anos) ela frequentemente está na mídia, seja pelo seu límpido Céu azul, seja pelas tenebrosas e obscuras nuvens de corrupção que sob ele assombra-nos a todos.
Brasília tanto é a cidade dos casos “Ana Lídia”, “Mário Eugênio” e “Índio Pataxó” quanto das “Diretas já!”, dos “Caras-Pintadas” e do “Impeachment”. Brasília não só é a sede dos ”Podres Poderes”, mas também o celeiro das Artes, da Cultura e, também, do Esporte (por que não?) que lançou ao mundo Joaquim Cruz, Nelson Piquet, Carmem de Oliveira, César Castro e muitos outros desportistas que nos encheram e/ou nos enchem de orgulho.
Ao contrário do que pensam muitos turistas que vêm de outros estados (ou até mesmo de outros países), em Brasília há muito mais cidadãos honestos que policiais corruptos, empresários sonegadores e políticos ladrões.
Em Brasília faltam estruturas física, material e pessoal na Saúde, na Segurança e na Educação, mas sobram boa-vontade, criatividade e dignidade aos que nessas áreas trabalham.
Hoje, às vésperas do seu quinquagésimo aniversário, muito temos a agradecer e a nos orgulhar de Brasília. Esqueçamos o que de ruim ela tem (a política), pois nada nem ninguém é perfeito, e façamos questão de nos lembrar apenas da sua beleza natural e da sua gente brilhante, cujos nomes figuram na Arte, na Cultura, no Esporte, na Educação, na Saúde, no anonimato...
Parabéns, Brasília!...
Parabéns, brasilienses!...
MEUS VERSOS LÍRICOS


BRASÍLIA, CAPITAL DA ESPERANÇA E DA POESIA
(Joésio Menezes)

Na Brasília de Tetê Catalão,
José Geraldo e Nicolas Behr,
A poesia - clássica ou não -
Por meio dos versos diz o que quer.
Ela bem canta os encantos mil
Da charmosa Capital do Brasil
Sem se esquecer de exaltar a mulher.

Ela fala das ruas sem esquina,
Dos arcos que formam a Catedral,
Do Céu azul que tanto nos fascina,
Da cultura em nossa Capital...
E sem desafinar ela canta árias
Às extensas Asas imaginárias
Que cruzam o Eixo Monumental.

Também enaltece a Natureza;
Saudades sente da flor do cerrado.
Em quase tudo ela vê beleza,
Inclusive no concreto armado
Que viadutos e pontes sustenta
Desde os idos dos anos sessenta,
Quando o “Sonho” vimos concretizado...

Mesmo estando Brasília submersa
Num oceano de desconfiança,
A poesia jamais desconversa,
Canta versos de autoconfiança...
Ela canta muitas coisas malditas,
Corrupção, falcatruas infinitas,
Mas o faz esbanjando esperança.


BRASÍLIA
(Joésio Menezes)

Berço és da moderna arquitetura,
Representante da plebe e da nobreza,
Acintosa repressora da ditadura,
Símbolo da modernidade e beleza...
Ícone és da Arte e da Cultura
Levada ao povo com grande destreza.
Inspiras, também, a literatura,
Ainda que não seja da tua grandeza.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA


BRASÍLIA, 1960 - A Oscar Niemeyer
(Joanyr de Oliveira)

Os cones de pó vermelho
soprados na face nova.
Nos cones, sacis antigos
girando no pensamento.
Ah! cones de pó vermelho,
os guris não trazem sustos
às tuas carnes de vento?

Da torre o verde engatinha
na tarde que asfixia:
os cones de pó vermelho
bebem patas de cavalos
pastando desabalados
os agres cachos do tempo:
os cones e seus cavalos
pisando nas mãos do vento.

Os giros vêm do invisível
trazendo mensagem lívida.

Os cones de pó vermelho
tangendo as cores do dia,
sopram os mais raros mistérios
sobre os olhos e cabelos
Há fluidas mitologias
hauridas desse momento.

Cavalos desesperados
sobre pasmos e desvelos
pastam passos e lamentos,
ruminam campos do outrora
pisando nas mãos do vento


QUERUBINAS
(Lília Diniz)

Essa gente do cerrado
que tem cheiro
jatobá, pequi, ingá

traz a vocação
de arar sonhos
e colher liberdade.

Ao amanhecer,
elas trazem o por do Sol
nos olhos, na pele.

Adentram as trilhas
dos dias pesados.
Tecem,
costuram,
pintam,
fuxicam.

Disfarçadas de flores,
declaram guerra
ao medo.
CRÔNICA DA SEMANA
LUZES DE BRASÍLIA
(Orlando Muniz)

Não podíamos pedir como Cidade nada além do que nos foi dado ou construído pelo Criador e pelos homens de mãos habilidosas!
Brasília, como diria Fernando Pessoa, é o rio da minha aldeia, e rio da minha aldeia é o mais bonito que há não importando quantos outros mais importantes ou maiores existam! Se de dia temos um céu e um sol de dar inveja ao mais carioca dos mortais, quando a noite cai um véu de luzes envolve a cidade como um manto colorido para retina nenhuma descolar por falta de cores. Nesse arrumado de tons, até o vai e vem dos carros pelos eixos e avenidas – com os milhares de feixes luminosos – parecem compor a paisagem de forma propositada. As fachadas dos monumentos recebem luzes opostas, para o adorno bem definido do artista – celebrado ou anônimo – que no mármore ou no concreto encheu os espaços de pura arte. Não há quem não pare e dê uma olhadinha para alguns símbolos do poder e da fé, mas que à noite se transformam em símbolos da beleza. A imponente Bandeira hasteada em frente ao Planalto, o Edifício do Banco Central ou a Catedral, são luzes de verdadeiro espetáculo!
Não há como falar de luzes em Brasília, sem lembrarmos logo da Torre de TV e de outras tantas torres de TV´s que se empilham sobre prédios bem ali no Setor Comercial Sul. À noite o céu cheio de antenas iluminadas ajuda a compor esse cenário inusitado! Imaginar uma cena bela pelas cores das luzes é lembrar como ficou bonito o trabalho do artista iluminador ao dar vida aos arcos da nova ponte JK. Ali além de uma paisagem de encher os olhos, o cenário das cores refletidas no leito do Paranoá realmente é belo e vale a pena conferir!
Quando chega o Natal e com ele vem o clima de harmonia umbilicado a suas próprias luzes. Para enfeitar essa festa nada mais simbólico que as milhares de lâmpadas que vão sendo distribuídas nas árvores do Eixo Monumental, nas portas e fachadas das lojas,nos edifícios das Quadras, nas imensas árvores dentro dos Shoppings e muitas, mais muitas mesmo nos rabos de cometa que emolduram Ministérios e Palácios lá na Esplanada.
Faça você também como àquela turma animada do Clube Rodas da Paz, que de bicicleta em punho, saem por nossas ruas e avenidas, e saboreiam de forma pausada – e como muita disposição – às formas e contornos que só uma noite de luz pode propiciar ao brasiliense. Com certeza após degustar com vagar e calma no assento de uma “magrela” o dia seguinte será muito, mas muito melhor!
Por tudo isso e pelas maravilhas que uma noite brasiliense pode proporcionar gratuitamente aos que por aqui passam, é que, cada vez mais, vale á pena viver por aqui!

terça-feira, 13 de abril de 2010

UM DEDO DE PROSA


SOBRE O NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA E A FALTA DE ÉTICA GOVERNAMENTAL

A partir de hoje, terça-feira 13, entra em vigor o novo código de ética médica, uma mudança que deve alterar toda a relação entre médico e paciente.
De acordo com o novo documento, o médico terá, inclusive, que pedir o consentimento dos pacientes sobre qualquer procedimento que realizar, a não ser em caso de risco iminente de morte, bem como prescrever medicamentos com LETRA LEGÍVEL. O documento também permite que o profissional se recuse a exercer a profissão em locais sem estrutura adequada, com exceção das situações de emergência.
Pois bem!... os profissionais da saúde detectaram alguns problemas com relação aos obstáculos encontrados pela população quando da sua ida a um HOSPITAL PÚBLICO e buscaram solucioná-los. Porém, o mais grave deles os médicos não poderão resolver: o problema CRÔNICO de saúde por que passa a SAÚDE PÚBLICA.
Cabe, agora, aos governos Federal, Estadual e Municipal investirem, verdadeiramente, nas melhorias dos hospitais, dando aos médicos condições dignas de trabalho e garantindo aos cidadãos (que pagam por meio dos seus impostos o DIREITO À SAÚDE, direito este garantido pela CONSTITUIÇÃO FEDERAL) um acompanhamento médico no mínimo RAZOÁVEL.
Dinheiro para isso todos nós sabemos que não falta. O que está faltando mesmo é VONTADE POLÍTICA e FALTA DE VERGONHA na cara dos nossos governantes, que governam em causa própria e apropriam-se da verba pública como se ela lhes pertencesse.

(Leia mais sobre o Novo Código de Ética Médica em http://www.portalmedico.org.br/novoportal/index5.asp)
MEUS VERSOS LÍRICOS


DEUS, O MÉDICO E A POESIA
(Joésio Menezes)

Deus deu ao médico autonomia
De curar as dores das nossas feridas
E de trazer ao mundo novas vidas,
Que, em síntese, são Dele a Poesia.

E feito à Sua imagem e semelhança,
O médico tem nas mãos o poder
De permitir que nele possamos ter
Infinita e total confiança,

Pois se a Poesia do Criador
Foi confiada a um “doutor”,
Então, ele tem o aval de Deus...

E já que ele é guardião da Poesia,
Deixo em suas mãos, sem heresia,
A custódia destes versos meus.


IDOLATRIA
(Joésio Menezes)

Quem tem o brilho do teu olhar,
Não precisa do Sol a brilhar
Nem das estrelas reluzindo no céu.
Quem dos teus lábios um beijo recebeu,
Certamente jamais se esqueceu
Que são eles doces favos de mel.

Quem sente o cheiro do teu suor
Sente-se nas nuvens, ao redor
De anjos, arcanjos e querubins.
Quem já tocou tua pele perfumada
Na vida não precisa de mais nada,
Nem mesmo de flores nos seus jardins.

Quem no peito teu nome tem guardado,
Não precisa ficar angustiado
Nem tampouco se entregar à saudade,
Pois o tempo em que esteve contigo
Fará do seu coração o abrigo
Da tão desejada felicidade.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA


DEUS E A MEDICINA
(José Carlos Gueta)

Fizemos o que foi possível
Agora ele está nas mãos de Deus
Esta é uma afirmação plausível
Da medicina que reconhece os limites seus.

Com aparelhos de última geração
Capaz de prolongar a nossa vida
Médicos e máquinas em ação
Tentando evitar a nossa partida.

E sobre as doenças que não tem cura
Também é permissão do Senhor
Se ela for curada pela criatura
Irá querer ser maior que o Criador.

Mas quando tudo parece perdido
Do alto Deus manda a ajuda
E o pedido do homem é atendido
O homem evolui mas Deus não muda.

Médicos , conservai a humildade
Na vossa missão sacerdotal
Então vós tereis prosperidade
Pois este é o objetivo principal.


MEDICINA
(Olavo Bilac)

Rita Rosa, camponesa,
Tendo no dedo um tumor,
Foi consultar com tristeza
Padre Jacinto Prior.

O Padre, com gravidade
De um verdadeiro doutor,
Diz: "A sua enfermidade
Tem um remédio: o calor...

Traga o dedo sempre quente...
Sempre com muito calor...
E há-de ver que, finalmente,
Rebentará o tumor!"

Passa um dia. Volta a Rita,
Bela e cheia de rubor...
E, na alegria que a agita,
Cai aos pés do confessor:

"Meu padre! estou tão contente!...
Que grande coisa o calor!
Pus o dedo em lugar quente...
E rebentou o tumor..."

E o padre: "É feliz, menina!
Eu também tenho um tumor...
Tão grande, que me alucina,
Que me alucina de dor...

"Ó padre! mostre o dedo,
(Diz a Rita) por favor!
Mostre! porque há-de ter medo
De lhe aplicar o calor?

Deixe ver! eu sou tão quente!....
Que dedo grande! que horror!
Ai! padre... vá... lentamente...
Vá gozando... do calor...

Parabéns... padre Jacinto!
Eu... logo... vi... que o calor...
Parabéns, padre... Já sinto
Que rebentou o tumor..."
CRÔNICA DA SEMANA


OS MÉDICOS E SEUS JALECOS
(Tais Luso de Carvalho)

Há dias que pensava escrever sobre algo que tenho visto e que me incomoda. Além de ter visto centenas de médicos e enfermeiras abraçarem simbolicamente o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, na comemoração do Dia Mundial da Saúde, continuo vendo todos os dias esses profissionais de jaleco branco e estetoscópio dependurado no pescoço, indo do hospital em direção a outros prédios que pertencem ao conglomerado, faculdades e uma agência do Banco do Brasil - que fica no térreo do hospital – e, mais ainda, aos cafés do outro lado da rua. Outros, colocam o carro no estacionamento do hospital e já saem de jaleco...
Ora, sabemos que é um perigo levar bactérias nas roupas para dentro de um hospital. Existem bactérias que permanecem entre 24 horas a uma semana em nossas roupas. E daí, como é que fica? E o estetoscópio? Alguém vai examinar o coração de alguém pelo caminho? Assim como levam bactérias para dentro do hospital, também podem levar bactérias do hospital, para outros estabelecimentos.
Ouvi, casualmente hoje, a mesma observação feita pelo jornalista da Band, Ricardo Boechat no seu programa pelo rádio, e há pouco pela televisão, com repórteres entrevistando os médicos na rua. Algo extremamente constrangedor. Isso, lá em São Paulo! E nas outras cidades do país?
Pergunto: há necessidade? Cadê, doutores, os cuidados com a população? Ouvi, de um médico infectologista, que isso é extremamente perigoso. Será descaso, falta de conhecimento sobre o assunto ou será vaidade? Fiquei observando a pergunta a eles formulada. Constrangedor. E pessoas que transitavam falavam timidamente: ‘acho errado, mas fazer o quê?’ Pois é. Quem tem de fazer não somos nós!!!
Que me perdoem os médicos, mas deveriam ser os primeiros a terem esse cuidado com a população, principalmente com os pacientes que estão sob os seus cuidados nos hospitais.
Não precisam expor a saúde das pessoas desta maneira; não tem o porquê sair na rua de jaleco, que é para ser usado exclusivamente no interior dos hospitais; e por que usar nessas saídas, esse bendito estetoscópio? Pega mal.
Usem um crachá, doutores, fica melhor.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

UM DEDO DE PROSA


ÁGUAS DE ABRIL

As “águas de março” prosseguem abril adentro e vêm causando transtornos a muita gente.
Em dias de chuva, é praticamente impossível andar pelas ruas de Brasília cujo escoamento das águas é prejudicado pela falta de infraestrutura e, principalmente, pela falta de educação dos seus moradores, que insistem em despejar pelas avenidas o lixo que produzem, lixo este responsável pelo entupimento dos antigos e precários bueiros espalhados pela cidade.
Mas o nosso transtorno nem de longe se compara à situação de calamidade por que passa a população do Rio de Janeiro. O estado parou ante o caos provocado pelas mais de 30 horas de chuva ininterrupta.
Lá, já são mais de cem o número de vítimas fatais provocadas pelos deslizamentos de encostas, os quais levaram morro abaixo centenas de casas. Inúmeros são, também, os desabrigados que choram a perda de tudo que construíram ao longo da vida. Pelo menos a estes restaram suas vidas e disposição para recomeçarem.
Levantemos as mãos aos céus e agradeçamos a Deus, pois em Brasília as maiores e mais devastadoras enxurradas são aquelas provocadas pelos escândalos políticos.
MEUS VERSOS LÍRICOS


GOTEIRAS
(Joésio Menezes)

É chuva que não acaba mais,
É água que muito derrama.
São enxurradas, são poças de lama
Que há muito o tempo nos traz.

As tormentas são demais,
E vem a mulher que me chama:
“- Meu bem, tem goteira na cama,
Tem também outra ali atrás”.

E nessa lida rotineira
A noite fica tão passageira
Que mal consigo descansar...

A chuva é sempre bem vinda,
Mas parece que essa não finda.
Resta-me somente esperar...


AO SOM DAS ÁGUAS
(Joésio Menezes)

Lá fora a chuva cai,
E eu aqui, na minha solidão,
Angustiado, sem entender
O porquê de tanta aflição.

E ao som das águas
Que rolam sobre o telhado
Eu fico imaginando:
“Que bom seria ela ao meu lado”.

Porém, com as águas
Os meus pensamentos se vão,
Sem rumo, em desatino,
Fugindo feito um ladrão.

E daí começo a entender
Porque padeço tanto assim:
É que as águas vão e não voltam,
E nem trazem você para mim
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA



AS ÁGUAS DO RIO
(José Carlos Brandão)


A rosa floresce.
Junto à fonte interminável
Abre as pétalas de luz.
Um bem-te-vi anuncia o arrebol.

Na harpa da palavra,
Com os dedos em chamas,
Vou tangendo o universo.
No meu olhar cai o orvalho da manhã.

Vejo a tua face na gota de orvalho.
A libélula se procura à beira d’água.
Ouve-se o som da sombra de uma folha.

O poeta vive à beira do abismo e do êxtase.
As águas do rio estão dentro dos meus olhos,
Nunca acabam de passar.


POEMA DAS ÁGUAS
(Lílian Reinhardt)

Água pura,
cristalina,
sereno,
orvalho,
neblina,
hálito da noite,
ainda menina,
lava os pensamentos meus...
Águas das bicas,
das cachoeiras,
das fontes,
das enxurradas,
limpa as minhas madrugadas...

Água- chuva,
chuva-água,
no poço fundo encontrada,
água nos velhos telhados pousada,
branca do céu caíndo,
escreve na vidraça empoeirada,
que o tempo ainda não é findo!

Água impetuosa,
nos braços do vento agitada,
corpo dos mares,
dos oceanos,
explica aos que não entendem,
que entre as águas,
não há enganos.

Fio d'água turva do caminho,
é água das grandes águas!....
CRÔNICA DA SEMANA


ÁGUAS MORTAS
(Ruy Câmara)

Só agora, livre dos murmúrios que me perseguiam a eito, posso sentir o quanto é difícil cruzar a barreira da ficção enquanto a reflexão teórica ameaça danificar as imagens que se projetam adiante. Nenhuma imagem fala por si mesma. O rio morto é obra da minha paciência, hipérbole de miséria e a tumba sórdida dos esquecidos. Desceu inteiro, solitário, tristonho. Como foi ingênuo e ao mesmo tempo magnífico, levando peixes para o mar de peixes, até o fim da devoração. Já não chora enquanto escorre-se como uma lágrima ressequida sobre o cascalho do meu rosto. Já não urra mais em sonhos, nem sente a aflição do último veio que se esgota no curso do próprio silêncio. Desse veio restará apenas uma taça quase vazia, a cicuta de quem aí irá beber na sequidão do vale, até a hora do cortejo que vejo deixando a aldeia, parte do ofício da providência que não providencia. A última campina já se foi, deu-se inteira a comer. Resta o lodo, que é o fim das águas, a solidão do homem que foge do gosto salobro de uma tarde devorada pela fome. No horizonte, aberto no desabraço das próprias asas, um pássaro perdido não sabe como se esconder no ar azul. Parece um pêndulo-negro à procura de um abrigo, ou do desabrigo que o mantém indeciso entre continuar ali pairado, ou flanando baixo até cair no solo firme. Poder emudecer ante o que vai sumindo é quase uma virtude. Flutuando sobre o cascalho, sepulcro das águas paralíticas, tudo que aí jaz, parece se acomodar tão lentamente, quanto as palavras impuras contidas na muda história dessa gente. É ingenuidade pensar que não estamos a adulterá-la. Estamos sim, com palavras e interconectividade. Mesmo que se bastem, essas imagens precisam ser tocadas pelos vastos sentidos. Assim se acomodam e se convertem em palavras sentidas. Mas o tempo vai passando, as águas também, protelando o que na última hora será dito. Desse veio restarão umas poucas palavras poéticas, palavras cheias de perturbadoras imagens, tanto e quanto um entressonho que vai se materializando devagar, devagar, até que um sonho novo venha substituir o velho. Tudo sofre os efeitos da substituição calculada, tudo, inclusive a alacridade do meu riso. Há poucos instantes e agora novamente indagando-me sobre isto, com a maior serenidade possível, chego à legítima conclusão de que, o caminho adiante não tem atalhos, e a metáfora do sonho pode ser a foz ou o abismo. Pelo abismo passarão só as imagens. Sem palavras todos os olhos são mudos, e as novas águas não se aperceberão na travessia. Onde puseram as palavras proféticas dos Gênios Malditos? O gênio não se expressa pelo olhar. Que o diga, Borges. As imagens ocas morrem cedo porque não se comportam bem no contexto. Mas não convém perder de vista o que vai fluindo no caminho das águas, nem é oportuno reivindicar o retorno ao passado. Sabemos nós que a natureza nem sempre reabilita sistemas extintos. Aqui cabe dizer algo menos restritivo. Para quem das águas retira o sustento, os leitos são caminhos naturais, traçados pelo Empreiteiro de todas as obras. Para quem aí navega sobre toras milenares, são os leitos que potencializam as riquezas nacionais. Para quem precisa desviá-los para gerar estoques de signos monetizados, todos os rios deveriam ser comunicantes com o Jordão. Se este é um geral desejo, os leitos mortos serão meras palavras e tão restritos quanto certos conceitos universais. O tempo que espere, e só nos resta continuar o percurso. Mas ao invés de reprimido entre as margens estreitas de um rio paralítico, desatento à amplitude infindável da própria subjetividade, e apesar do murmúrio que revela numa curta pausa, as sombras mortas do invisível, e por toda parte há quem diga que sou uma porção dessa invisibilidade espacial, e ao mesmo tempo, parte substancial do vazio temporal que me comporta, melhor é fazer um passeio a pé pelos campos contíguos ao leito do Sono, onde poderei admirar um estranho e muito belo contraste, de um lado, o ocre enegrecido do barro petrificado em robustas colinas, e do outro, o esplendor da soagem, de cuja aparência, como é natural nessa época do ano, tinge as vastas superfícies com um colorido inimitável. Mas com o passar das águas e dos homens, tudo vai ficando banal, repetitivo e um obstáculo intransponível continuará a ser tão avassalador, quanto a fúria vingativa das catástrofes gigantescas. É melhor seguirmos a marcha. Estamos mais interessados nos signos do que nos enunciados. Contudo, não me apraz repetir o trotar barulhento dos idealistas e naturalistas. Em tudo há incoerência, tanto que, os mais exaltados até já insinuam o extermínio humano para o bem da natureza. E aqui novamente, olhando para essas nuvens ágeis, fingidoras, sinto que é hora de fazer um balanço de consciência, antes que esta reflexão se misture às palavras vãs da lei impura, que como as toras milenares, também apodrecerá nas próximas correntezas. Mas como posso ser coerente com o meu discurso, sendo ao mesmo tempo algoz e vitima da natureza, usuário das benesses do meu tempo, e impávido como o sol outonal que despenca sobre os telhados e vai se deitar e queimar a alma de quem aí estiver, ou frio e insensível como os cavaleiros andantes, que iniciaram a longa marcha pela universalidade do poder? A marcha continua, tão firme quanto a vida frágil de quem todos os dias repete os mesmos trajetos para suster-se. Parece ser esse o destino dos rios e dos homens. Mas para que pressa, se ninguém nos espera em lugar algum? O mundo é grande, o Céu é maior.